Modelo para termostatos em prédios empresariais usa o biotipo de homens de, em média, 40 anos de idade e 70 quilos
A sua namorada costuma levar jaqueta ao ir para o cinema porque sabe que não aguenta ver o filme até o final na presença do ar-condicionado? Ou, mesmo em dias ensolarados, ela permanece de blusa, e até de cachecol, no ambiente de trabalho, também devido à temperatura do local?
Diferentemente do que o senso comum pode sugerir, não se trata de uma “frescura de mulheres”. A escolha por manter as temperaturas do ar-condicionado convencional é baseada em fórmulas criadas há décadas e que tem as taxas metabólicas de homens como referência.
Essa foi a conclusão de um estudo publicado na revista científica Nature Climate Change. Além disso, o estudo também apontou que ajustar os níveis do ar-condicionado para temperaturas mais quentes pode ajudar a reduzir o aquecimento global, já que as emissões desse aparelho e o seu consumo de energia elétrica impactam sobre a temperatura do planeta.
Regras baseadas em um corpo masculino
Os termostatos de edifícios empresariais seguem um padrão criado na década de 1960, que considera fatores como pressão de vapor temperatura e velocidade do ar. A taxa metabólica considera para formular este parâmetro é baseada em um corpo masculino de 40 anos de idade e com peso de 70 quilos.
Esse estudo não mencionou se critérios raciais foram considerados na formulação desse padrão, que pode superestimar, em até 32%, a taxa de produção de calor por mulheres em repouso.
É possível pensar que, na década de 1960, os homens brancos eram a maioria nos escritórios empresariais. Contudo, o perfil dos locais mudou significativamente nas últimas décadas, a partir da maior inserção de mulheres nesses espaços. Isso demanda alguns reajustes nos ambientes corporativos, tais como a temperatura média das salas.
Essa mudança, aliada às demandas para reduzir emissões de gases capazes de intensificar o aquecimento global, já seria suficiente para promover uma revisão nos termostatos de modo a atender a temperatura dos locais de trabalho com mais equilíbrio.
Diferentes vestimentas
As diferentes vestimentas são outro fator que impacta a percepção da temperatura do ambiente. Além das taxas metabólicas distintas, esse aspecto contribui para que homens, geralmente, vestindo ternos e calças, suportem temperaturas mais geladas do que mulheres, especialmente, quando elas vestem saias, decotes e vestidos.
Os pesquisadores que formularam o estudo propuseram um novo modelo para definir as temperaturas que deveriam ser usadas em escritórios. O objetivo é incluir diferenças não só de gênero, mas também de peso e de idade — pessoas com mais peso ou mais jovens se aquecem mais rapidamente.
Segundo esse novo modelo, uma temperatura mais equilibrada, de modo a atender diferentes corpos, pode variar em até 3 °C, sendo que os homens preferem ficar em um ambiente a 21°C, e as mulheres, a 24°C, na média.
Impactos no corpo e no rendimento
Pesquisas científicas anteriores já haviam demonstrado que as mulheres sofrem maior vasoconstrição em ambientes mais frios. Nesse processo, as veias ficam mais estreitas para reduzir o fluxo de sangue e evitar a perda de calor. Assim, para manter o conforto, as mulheres precisam estar, na média, em ambientes mais quentes.
O uso do ar-condicionado a partir do biótipo masculino também impacta o rendimento de mulheres em seu trabalho. Funcionários incomodados ou insatisfeitos com a temperatura do local de trabalho podem apresentar uma redução de até 38% de produtividade.
Além disso, relatos de mulheres que afirmam levar pequenos cobertores para o escritório, a fim de suportar a temperatura do ambiente, são comuns. Em uma reunião ou um atendimento, portar um cobertor pode levantar olhares preconceituosos que vão questionar a qualidade e a seriedade da funcionária em questão. Isso impacta na avaliação sobre o trabalho desempenhado por ela.