29 de março de 2024

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Sobre a indignação seletiva e o monopólio do sofrimento

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Por Leonardo Goes de Almeida

 

Tem se tornado prática comum observarmos pessoas indignadas com certos acontecimentos e, estranhamente, mostrarem-se complacentes em casos semelhantes, numa demonstração clara de falta de coerência

 

Caro(a) leitor(a). Antes de digitar quaisquer vocábulos, faço minha mea-culpa já que também não estou imune a isso. Vou tentar jogar no mesmo caldeirão as mais variadas polêmicas, que no fundo, convergem-se: Lula, Bolsonaro e, agora, Robinho.

Sim, caro(a) leitor(a), pode parecer simplista ou até sensacionalista, mas tudo se converge ao mesmo ponto. Ou seriam aos mesmos pontos. Eu me indigno com isso, mas não com aquilo (que é a mesma coisa). Eu sofro com isso, porque eu posso sofrer, mas aquele outro não pode (também pela mesma coisa).

Pela minha formação jurídica, jamais questionei que a formação de culpa (no sentido criminal) só seria inquestionável a partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Ponto incontroverso para mim. Reitero, pra mim! Ponto.

Acontece que, nos últimos anos, isso vem sendo recorrentemente debatido. Também muito se discute sobre quem (não) pode sofrer sobre determinada temática. No “frigir dos ovos” todos os “irmãos” querem eleger contra quem se pode indignar e quem pode sofrer. Elegem-se “heróis e vilões” aleatoriamente pelas mesmas características.

O começo do texto pode parecer confuso, mas o leitor mais ávido já está interligando os pontos: cansa, não?!

A gente vê muitos clamando pela execução da pena a partir da segunda instância (por causa do Lula) e, de repente, defendem o Robinho (condenado ainda em primeira instância na Itália pelo suposto crime de estupro) dizendo que o que difere um do outro é que o primeiro seria… ladrão!

E de repente você vê as mesmas pessoas defenderem com unhas e dentes a família do atual presidente. E os que criticavam imensamente os filhos do ex-presidente sem conhecê-los se pegam defendendo “zero um, zero dois, zero três”… zero quem for.

Antes que o(a) leitor(a) diga, ora, mais um comunista (virou moda agora, né?!)… Causa-me náusea que os mesmos influenciadores e “formadores de opinião” sobre contra quem devemos nos indignar também pautam sobre quem pode sofrer ou não. Os discursos antagônicos sofrem de uma esquizofrenia absurda.

É preciso coerência

Não mais do que os debates atuais, tão profundos quanto a profundidade de um pires, os mesmos argumentos que servem de ataque, também servem de defesa!

Não sou santista, mas vou defender o Robinho: ele ainda não teve sua sentença condenatória transitada em julgado. Não sou petista, mas vou defender o Lula: ele ainda não teve sua sentença condenatória transitada em julgado. Não sou “bolsonarista”, mas vou defender os filhos do presidente: eles ainda não tiveram suas sentenças condenatórias transitadas em julgado.

Se você condena um e “passa pano” para o outro, só lamento: você não tem coerência alguma e só quer lacrar.

Ps: que sejam todos devidamente punidos se forem culpados, não tenho político, jogador ou qualquer humano “de estimação”. #LACREI #sqn

 

O autor é advogado, mestre em ciência jurídica e sócio do Escritório Maia Sociedade de Advogados.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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