Por Dennis Moraes
Em meio a um cenário de crise financeira que desafia até o mais otimista dos economistas, o presidente da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste, Kifú (PL), acredita ter encontrado a solução para todos os problemas da cidade: criar mais um cargo de assessor por vereador. Em recente entrevista para o Grupo Liberal, o presidente da Câmara Kifú (PL) disse que buscará apoio da prefeitura na reivindicação por mais assessores, afinal, o que é austeridade quando se pode ter mais cargos comissionados, não é mesmo?
Desde 2018, os vereadores contam com apenas um assessor cada, uma “tragédia” resultante da decisão judicial que exonerou 38 comissionados, sob a justificativa de que três assessores por gabinete eram um exagero e um desperdício de recursos. Na época, o Ministério Público apontou que a produtividade da Câmara não justificava tamanha estrutura. Mas, segundo Kifú, os tempos mudaram. A cidade cresceu, e os trabalhos parlamentares supostamente se multiplicaram, o que faz com que um assessor seja uma “missão impossível” para os vereadores.
Claro, quem somos nós para questionar tamanha urgência? Afinal, enquanto os munícipes lidam com problemas como saúde precária, educação deficitária e segurança pública em frangalhos, o aumento de assessores deve ser a prioridade absoluta. Certamente, ter mais comissionados resolverá todos esses problemas num passe de mágica.
E como se isso não bastasse, a Prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste divulgou recentemente o Decreto nº 7.620/25, anunciando medidas de contenção e redução de despesas. Entre elas, a criação de um Comitê de Gestão Administrativa, Orçamentária e Financeira, composto por servidores técnicos que monitorarão e proporão ajustes financeiros. Parece que enquanto um lado do governo tenta apertar os cintos, o outro quer afrouxá-los completamente. Coerência, onde estás?
Não podemos esquecer também que, na última reunião ordinária de 2024, realizada no dia 10 de dezembro, os vereadores deram um show de priorização (para eles mesmos, claro). Aprovaram, entre outros projetos, um generoso reajuste salarial para o prefeito, o vice-prefeito, os secretários municipais e, óbvio, para eles próprios. O Projeto de Resolução 03/2024 fixou o subsídio mensal do presidente da Câmara em R$ 15.921,41 e dos demais vereadores em R$ 14.158,91. A proposta passou com 12 votos favoráveis e cinco contrários.
Já o Projeto de Lei 169/2024, que reajusta os salários do prefeito, vice-prefeito e secretários municipais, foi aprovado com 15 votos favoráveis e três contrários. O novo subsídio do prefeito foi fixado em R$ 35.087,13, o do vice-prefeito em R$ 18.420,73, e o dos secretários municipais no mesmo valor, representando um aumento de 6,87%.
Agora, com os bolsos devidamente reforçados, a Câmara quer mais. Kifú planeja buscar apoio do Executivo e do Judiciário para legitimar o aumento do número de assessores. A justificativa? “A cidade cresceu.” Parece que o crescimento urbano é diretamente proporcional à necessidade de mais cargos públicos. Quem diria!

O que fica claro é que, enquanto a população espera soluções reais para seus problemas, o Legislativo parece estar mais preocupado com sua própria conveniência. Aumentar o número de assessores, em vez de investir em estruturas efetivas e na capacitação dos servidores já existentes, é um desserviço. Afinal, quando foi a última vez que você ouviu falar de um assessor que resolveu o problema de buracos nas ruas ou de filas nos postos de saúde?
É preciso um estudo sério e transparente que justifique essa proposta. Caso contrário, a iniciativa de Kifú não passará de mais um exemplo de como a política pode ser desconectada da realidade. Talvez seja hora de os vereadores lembrarem que eles estão ali para servir a população, não para criar mais cabides de emprego.
O povo merece respeito. E, acima de tudo, merece lideranças que coloquem o interesse público acima de seus próprios.
Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br
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