Pesquisadora de temas em governança, Jurema Aguiar analisa a aprovação das cotas para mulheres em conselhos de estatais e aponta caminhos para empresas que querem avançar de forma consistente
A aprovação no Senado Federal do projeto que estabelece cotas para mulheres em conselhos de administração e fiscal de estatais reacendeu o debate sobre diversidade nas instâncias mais altas de decisão. A proposta, que segue para sanção presidencial, prevê que a participação feminina nesses colegiados alcance 30% até 2030.
Para Jurema Aguiar de Araujo, que atua como conselheira consultiva em diversas empresas brasileiras, a medida tem valor simbólico e prático, mas será insuficiente se não vier acompanhada de mudanças estruturais. “A diversidade no conselho não pode ser encarada como um número a ser cumprido, mas como um ativo estratégico que amplia a visão de riscos, melhora a qualidade das decisões e fortalece a reputação da empresa”, afirma.
Segundo a executiva, conselhos mais plurais não apenas refletem melhor a sociedade que representam, como também têm impacto direto no desempenho e na resiliência organizacional. “Estudos mostram que conselhos diversos tendem a discutir mais profundamente os temas, a questionar premissas e a identificar riscos antes que eles se materializem. Isso é governança na prática”, acrescenta.
Além da questão de gênero, Jurema aponta que o debate precisa se expandir para contemplar outras dimensões de diversidade, como raça, idade, origem regional, experiência profissional e formação acadêmica. “O valor está na pluralidade de perspectivas. Um conselho homogêneo em termos de expertises, mesmo que com mulheres, ainda pode reproduzir vieses e perder oportunidades de inovação”, observa.
Ela também reforça que a presença de mulheres e outros grupos sub-representados nos conselhos deve vir acompanhada de condições para participação efetiva. “É preciso garantir que essas vozes tenham espaço real para influenciar decisões, e isso passa pela cultura organizacional, integração entre os membros do colegiado e também a liderança do Presidente do Conselho”, afirma.
Para empresas privadas, Jurema enxerga no momento uma oportunidade para antecipar tendências e se diferenciar. “Quem espera a lei para agir já está atrasado. Incorporar diversidade na governança hoje significa estar mais preparado para o mercado, para investidores e para as novas demandas sociais”, conclui.
Sobre Jurema Aguiar de Araújo
Com 30 anos de experiência em gestão empresarial, Jurema liderou processos de expansão, inovação e estratégia em empresas como M. Dias Branco, Bunge Alimentos, Hypera Pharma, Avon (atual Natura & Co) e Castrol/BP. É conselheira independente desde 2013 e membro da Comissão de Estratégia & Inovação do IBGC.





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