A COP30, realizada em Belém, encerrou-se sob um cenário que misturou avanços diplomáticos pontuais com uma sucessão de problemas de organização, infraestrutura e contradições ambientais que marcaram negativamente a imagem do evento no Brasil e no exterior. Ao longo dos dias, delegações, especialistas e veículos de imprensa de diversos países relataram dificuldades que foram desde falhas no funcionamento do espaço até decisões estruturais vistas como incompatíveis com o discurso climático que guiou a conferência.
Logo no início da cúpula, delegados registraram calor extremo dentro do pavilhão principal, já que o sistema de refrigeração não funcionou de forma adequada. A ONU enviou uma carta inédita pedindo melhorias imediatas na segurança e na logística, fato que se tornou símbolo do desgaste na imagem da organização. Além das condições internas, a infraestrutura ao redor da COP30 também chamou a atenção: o uso de dezenas de geradores movidos a diesel e a hospedagem de milhares de participantes em navios de cruzeiro atracados em uma região pobre de Belém levantaram questionamentos sobre coerência, impacto ambiental e prioridades na execução do evento. Os navios, movidos a combustível fóssil e localizados a dezenas de quilômetros do local da conferência, eram mantidos ligados 24 horas por dia, acumulando um consumo elevado de diesel e aumentando ainda mais o desconforto entre ambientalistas.
A construção de uma grande avenida na capital paraense, obra acelerada às pressas e marcada por denúncias de supressão de vegetação, também ganhou destaque internacional e passou a ser chamada por veículos estrangeiros de “rodovia da devastação”. Autoridades locais alegam que a obra já estava prevista desde 2020, mas imagens de árvores derrubadas nos arredores da região da COP reforçaram a percepção de contradição entre discurso ambiental e prática administrativa.
Outro episódio que marcou a conferência foi a tensão envolvendo grupos indígenas e movimentos sociais, que tentaram acessar áreas restritas da chamada “zona azul”. O confronto gerou críticas sobre a participação real dessas comunidades em um evento que, teoricamente, deveria colocá-las no centro das discussões.
No campo financeiro, estimativas independentes apontam que os gastos totais relacionados à COP30 podem alcançar a marca de R$ 5 bilhões, somando obras, contratações emergenciais, logística e serviços temporários. A cifra provocou comparações e questionamentos públicos sobre o custo-benefício do evento, considerando que o investimento equivaleria, segundo especialistas, a milhares de unidades habitacionais ou dezenas de escolas e hospitais.
Apesar dos problemas estruturais, a COP30 produziu alguns resultados relevantes. O principal deles foi o avanço do Tropical Forests Forever Facility (TFFF), um mecanismo internacional voltado ao financiamento de ações de preservação das florestas tropicais. Países e instituições financeiras anunciaram aportes significativos, incluindo valores expressivos destinados à proteção da Amazônia e de biomas semelhantes em outras regiões do planeta. Além disso, as conversas sobre a transição global dos combustíveis fósseis foram fortalecidas, ainda que não tenham resultado em um compromisso definitivo para eliminação progressiva desses recursos.
O conjunto desses acontecimentos colocou o Brasil no centro de um debate global sobre credibilidade ambiental. Se, por um lado, houve avanços diplomáticos e anúncios financeiros capazes de gerar impacto futuro, por outro, a organização em Belém, os dilemas estruturais e as contradições logísticas acabaram dominando a narrativa pública. Com isso, a COP30 deixa um legado ambíguo: progresso formal nas mesas de negociação e desgaste evidente na percepção pública e internacional.





VEJA TAMBÉM
RJ: Faetec inaugura primeira unidade do projeto Intramuros na Zona Oeste
LBV mobiliza doações para atender famílias atingidas pelo tornado em Rio Bonito do Iguaçu
COP30 em Belém enfrenta baixa presença de líderes mundiais e críticas por altos custos