Casa entregue, palco montado: a triste banalização política de um sonho popular

Enquanto famílias realizam o sonho da casa própria, políticos da região transformam conquista social em vitrine eleitoral.

Por Dennis Moraes

Na última sexta-feira (30), Santa Bárbara d’Oeste viveu um momento de esperança: o Governo do Estado de São Paulo, por meio do programa Casa Paulista e da CDHU, entregou 186 apartamentos a famílias que agora podem dizer com orgulho: “essa casa é minha”. A ação faz parte do Residencial Araçari, investimento estadual que, ao final, somará 372 unidades e mais de R$ 80 milhões aplicados em moradia digna. Uma conquista, sem dúvida. Um marco para muitas famílias. Um passo concreto em direção a uma vida mais justa.

Mas essa história não teve apenas alegria.

O que deveria ser um evento voltado às famílias — as verdadeiras protagonistas dessa entrega — acabou virando um espetáculo de vaidades políticas. O que se viu foi uma romaria de deputados estaduais, vereadores, assessores fantasmas e políticos de ocasião tentando tirar uma casquinha do feito. Muitos sequer sabiam apontar o bairro no mapa da cidade dias antes da solenidade. Mas na hora da foto, estavam todos lá, sorrindo, aplaudindo, posando.

Entre sorrisos e apertos de mão, desfilaram aqueles que pouco — ou nada — contribuíram de fato para a realização do empreendimento. Alguns chegaram ao cúmulo de afirmar que “trouxeram” os apartamentos para Santa Bárbara, como se tivessem comprado com dinheiro do próprio bolso ou construído com as próprias mãos. Falsidade que beira o escárnio. A verdade é que a maior parte dos políticos presentes usou o momento apenas como palanque. E palanque eleitoral disfarçado de solidariedade.

Aliás, a visita do governador Tarcísio de Freitas, que deveria simbolizar o compromisso do Estado com políticas habitacionais sérias e continuadas, foi usada como moeda de troca por figuras locais que vivem de holofote. Deputados que só aparecem em época de eleição, vereadores que vivem de discursos vazios e bajuladores que não representam o povo — representam seus próprios interesses.

E o pior: muitos deles organizaram reuniões com demandas forjadas, prometeram mundos e fundos a partir de “encontros produtivos” que, muito em breve, a população descobrirá que não passaram de encenação.

A hipocrisia não para por aí. Parte da imprensa local também entrou no jogo. Em vez de cumprir o papel de informar, investigar e dar voz às famílias, preferiu fazer coro à propaganda oficial. Agiram como assessoria de campanha, exaltando políticos ao invés de retratar com fidelidade o que realmente aconteceu: uma entrega técnica do Estado transformada num circo midiático para alimentar vaidades.

É preciso dizer: não há problema em reconhecer a importância da política pública. A entrega desses apartamentos é sim uma ação importante do Governo do Estado, coordenada pela CDHU, com apoio da prefeitura que doou o terreno. Mas isso não dá o direito a qualquer político parasita de se apropriar de uma conquista coletiva como se fosse título pessoal.

Fica o alerta: 2026 está logo ali. Vem eleição para deputado, governador, presidente. E os mesmos rostos que hoje estampam sorrisos falsos nas inaugurações são aqueles que, amanhã, pedirão seu voto. Cidadão barbarense, anote, registre, fotografe. E, sobretudo, lembre-se.

Porque a casa pode ser nova. Mas a cara de pau, essa, já é velha conhecida da política local.

Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br