*Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank
Brasil
Nas últimas semanas o mercado financeiro sugeriu uma melhora no ambiente econômico e maior otimismo nos negócios, isso em decorrência da desaceleração da inflação, a queda do dólar e as boas expectativas com a proposta de arcabouço fiscal.
Os investidores esperam que, uma recente melhora no ambiente macroeconômico possa ajudar a abrir espaço para a queda dos juros antes do que o mercado vinha projetando. A expectativa é de que a Selic (taxa básica de juros que hoje está em 13,75% ao ano) tenha a primeira redução em agosto, em vez de apenas no quarto trimestre, como era o esperado.
As duas razões para o otimismo são o resultado da inflação de março, de 0,71%, que foi bem abaixo do esperado, e o câmbio mais favorável, o que ajuda a conter os preços e o índice inflacionário. Nessa semana, o dólar fechou no menor patamar desde junho do ano passado.
Outra surpresa positiva é o recebimento positivo do mercado com relação à nova regra fiscal proposta pelo governo, com os últimos ajustes, se demonstra mais restritiva do ponto de vista do gasto público. A versão apresentada foi bem recebida porque tem controle dos gastos, mas ainda existem dúvidas com relação a tramitação no Congresso. Dá até para dizer que a redução dos juros em junho já é mais provável, mas ainda não é tão claro que esse movimento possa acontecer no primeiro semestre.
Sobretudo, é preciso ver como isso vai impactar em inflação mais baixa. O BC tem que aguardar para avaliar os efeitos concretos, tanto do arcabouço fiscal quanto da apreciação do real sobre a dinâmica da inflação.
Apesar da melhora no cenário macroeconômico, existem incertezas que permanecem no horizonte e que precisarão ser monitoradas, já que podem impactar na política monetária.
Entre eles, tem o debate sobre a meta de inflação que é válido, mas é complicado pela forma como tem sido conduzido, além da transição dos diretores do Banco Central, cujos nomes indicados devem ser conhecidos em breve. A dúvida é se será um nome que vai contrapor as ideias do presidente do BC.
Câmbio
O dólar acumulou baixa de -2% na semana passada, atingindo seu menor patamar desde junho de 2022. A moeda americana está refletindo o resultado da inflação menor que a esperada
A perspectiva de fim da alta de juros nos EUA é um dos principais fatores de impacto para essa queda forte. Esse fator externo se intensificou com a crise bancária em meados de março e com uma sequência de dados mais fracos da economia americana, culminando na quarta-feira com a taxa de inflação dos EUA (CPI) em uma tendência de desaceleração.
Isso impacta diretamente o câmbio porque juros mais altos nos EUA atraem capital ao país, valorizando a moeda americana. Assim, o fim da alta favorece as moedas de países emergentes, como o real, no Brasil.
Um segundo fator externo é a redução da aversão ao risco após a crise bancária que afetou Silicon Valley Bank (SVB), Signature Bank e Credit Suisse. Quando uma crise dessa magnitude acontece, todo mundo foge de investimentos de risco, porque ninguém sabe o que pode acontecer.
O dólar se fortalece em momentos de aversão ao risco, mesmo quando o risco vem dos Estados Unidos. Mas, agora, há uma percepção de que essa crise não vai se tornar sistêmica, porque os reguladores agiram rápido e não houve quebradeira.
Um terceiro fator externo é a recuperação da China, que tem impulsionado o preço das commodities brasileiras e, consequentemente, a entrada de dólares no país. Basicamente, é uma questão de oferta e demanda. Se tem mais moeda estrangeira, ela vale menos.
No Brasil, o arcabouço fiscal é o principal fator para o fortalecimento da moeda brasileira. De modo geral, ainda que tenham alguns problemas, o arcabouço veio melhor do que se imaginava.
Existia nos investidores muito temor em relação a um risco de descontrole de gastos e, consequentemente, um descontrole da dívida pública. Mas o arcabouço trouxe de fato um mecanismo de limitação de despesas, que era a grande preocupação do mercado.
Contudo, lá fora ainda não está claro se o Fed realmente vai ter espaço para reduzir juros tão cedo. Aqui, o arcabouço tem um lado positivo, mas ainda tem toda a tramitação no Congresso, e ainda há muito ruído na relação entre governo e Banco Central.
Além destes riscos, a mudança da meta de inflação, a nomeação do futuro presidente do BC em 2024, a política de preços da Petrobras e a atuação do BNDES, são fatores de atenção para o real brasileiro.
Mesmo com as últimas boas notícias, ainda tem muito risco no ar: o arcabouço ainda nem foi apresentado ao Congresso, não sabemos o que tem exatamente dentro da regra, as taxas de juros nos EUA ainda não começaram a cair e ainda não há dados concretos sobre a economia da China. Em poucas palavras, ainda tem muita água para rolar.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Four Seasons lança empreendimento residencial em Coconut Grove, na Flórida
SOS CALAMIDADES RIO GRANDE DO SUL LBV mobiliza doações para atender vítimas das chuvas no Estado gaúcho
Noventa e cinco por cento dos brasileiros com acesso à internet possuem contas bancárias de acordo com uma pesquisa