Por Alexandre Romeiro
Nas organizações de trabalho, as principais estratégias para motivar os colaboradores são via salário. O dinheiro é uma fonte de motivação importante, porque ele é um caminho que leva à satisfação de necessidades fundamentais, como casa, comida, transporte, etc.
Entretanto, o dinheiro, como estratégia principal de reforço, encontra desafios quando as necessidades mais fundamentais estão supridas. Além de atrapalhar a atividade criativa, é sabido que as pessoas querem mais que dinheiro. Desejam autonomia, relações humanas satisfatórias, perceberem que produzem algo útil, enfim, desejam um trabalho com sentido.
Toco nesse assunto porque quero falar de reconhecimento. Entre os fatores que geram satisfação e dão sentido ao trabalho é a pessoa ser genuinamente reconhecida pelo que ela faz ou fez. Um estudo neurocientífico realizado por Keize Izuma e colegas (2008), revelou que o reconhecimento social ativa a mesma região do cérebro que a recompensa monetária.
Ambos têm, portanto, “moeda neural comum“. Inclusive, não é de se assustar, que há situações que as pessoas trocam o dinheiro pelo comportamento pró-social. Ou seja, o cérebro balanceia e converte os dois diferentes tipos de recompensa, dependendo do que ele achar mais importante na circunstância.
O reconhecimento social é altamente relevante, porque, com base na história evolutiva humana, é muito antiga a nossa necessidade de nos sentirmos parte e de termos um papel importante no grupo – isso garantia a sobrevivência e reprodução. O radar do cérebro social está sempre ligado, monitorando o ganho ou a perda de reputação nos acontecimentos, de maneira automática. Naturalmente, existem níveis de reconhecimento social. Ser elogiado pela escolha da roupa do dia é diferente de ganhar um prêmio Nobel, porque implica efeito diferente na reputação.
Como efeito dessas constatações, o reconhecimento tem implicação prática e poderosa como estratégia para motivar, dar sentido ao trabalho e reforçar comportamentos desejados, além de não custar dinheiro! Basta fomentar a generosidade e criar hábito do reconhecimento de uns para com os outros – o que, naturalmente, pode ter seu custo de formação dessa cultura.
Dentro do escopo da estratégia do reconhecimento, vale ressaltar que é preciso que o reconhecimento seja genuíno, porque o cérebro se afasta ou desconsidera o falso, já que não leva à percepção de real ganho de reputação, mas sim à percepção de ameaça – por que estão sendo falsos comigo?
Alexandre Romeiro é psicólogo, mestre em administração pela FGV-EAESP e diretor do Instituto Mindscience, atua com coaching de executivos e de negócios e é professor da IBE-FGV.