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A tarifa que sobe, o diesel que persiste e o futuro que insiste: o desafio da eletrificação no transporte coletivo

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Por Dennis Moraes

O aumento recente da tarifa de ônibus em Santa Bárbara d’Oeste para R$ 5,90 escancarou um problema que vai muito além do bolso do trabalhador: expôs as falhas estruturais de um modelo de transporte que permanece preso ao passado, operando com veículos a combustão enquanto outras regiões do país e do mundo já trilham o caminho da modernização elétrica.

Na prática, a conta não fecha. E não é de hoje. O serviço é terceirizado desde 2021, operado pela empresa Nova Via, que assumiu o sistema com promessas de modernização e eficiência. Mas, passados os primeiros anos do contrato, a população barbarense ainda aguarda uma frota mais silenciosa, menos poluente e com conforto compatível com os quase R$ 6 pagos por embarque. O subsídio municipal, que cobre parte da chamada tarifa técnica – hoje superior a R$ 10 –, mostra o tamanho do abismo entre o custo real do transporte e aquilo que o passageiro pode pagar. Mesmo com o reajuste, o sistema continua deficitário e longe de ser sustentável.

Esse cenário, no entanto, não é exclusivo de Santa Bárbara. Toda a região metropolitana de Campinas, que inclui cidades como Americana, Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa e Campinas, convive com sistemas de transporte operados de forma semelhante, sob concessões públicas ou permissões terceirizadas. Em todas elas, o modelo ainda depende fortemente de ônibus movidos a diesel, mesmo diante de um cenário climático cada vez mais alarmante e de uma população que clama por transporte público acessível, limpo e moderno.

Enquanto isso, São Paulo — também com um sistema operado por empresas privadas, mas sob forte controle técnico da SPTrans — mostra que é possível fazer diferente. A maior cidade do Brasil vem expandindo sua frota de ônibus elétricos com investimento em infraestrutura, recarga e metas ambientais. Atualmente, são mais de 500 veículos elétricos em circulação, e a meta é ambiciosa: chegar a 2.200 até 2028. Além da melhoria direta na qualidade do ar e no conforto das viagens, o impacto financeiro é significativo. Um único ônibus elétrico pode economizar cerca de R$ 20 mil por mês entre combustível e manutenção, segundo estimativas do setor.

Foto: Dennis Moraes

E o que dizer da passagem? Na capital paulista, o valor atual é de R$ 4,40 para bilhete eletrônico comum — bem abaixo dos R$ 5,90 praticados em Santa Bárbara e em outras cidades do interior paulista. Isso reforça a necessidade de rever não apenas o modelo de operação, mas o próprio conceito de mobilidade urbana nas regiões que estão ficando para trás.

Hoje, enquanto o debate sobre transição energética avança nos fóruns internacionais, na prática, os corredores de ônibus da região de Campinas ainda ecoam o barulho pesado dos motores a diesel. A promessa de eletrificação, quando surge, aparece de forma tímida, quase simbólica, como em Campinas, que conta com poucos veículos elétricos em fase de teste. E mesmo nessas cidades mais populosas da região, falta um plano público consistente para transformar essa realidade.

A verdade é que a modernização do transporte coletivo no interior de São Paulo depende de vontade política, planejamento técnico e coragem para romper com um modelo ineficiente. As administrações locais precisam ir além dos aumentos tarifários e dos contratos de concessão pouco transparentes. É necessário estabelecer metas concretas para a renovação da frota, buscar linhas de crédito específicas para a aquisição de ônibus elétricos e, principalmente, criar políticas públicas que coloquem o passageiro no centro do debate — e não apenas como financiador de um sistema cada vez mais caro e desgastado.

A eletrificação não é apenas uma tendência mundial; é uma necessidade urgente. Cidades que não se adaptarem agora pagarão mais caro no futuro — em qualidade de vida, em saúde pública e em credibilidade política. A mudança não é simples, nem barata, mas é a única que aponta para um futuro viável. Porque insistir no transporte movido a diesel em pleno 2025 é mais do que teimosia: é condenar gerações inteiras a um modelo de mobilidade que já não se sustenta.

E se Santa Bárbara, Americana, Sumaré e tantas outras cidades da região ainda têm dúvidas sobre qual caminho seguir, talvez seja hora de olhar com mais atenção para o que São Paulo está fazendo — e perguntar, com humildade e pragmatismo, por que a capital consegue oferecer um transporte mais limpo, mais moderno e até mais barato.

O futuro do transporte público no Brasil passa, inevitavelmente, pela energia elétrica. Mas só chegará a todas as cidades se houver decisão política, investimento e, sobretudo, respeito ao cidadão que precisa sair de casa todos os dias e enfrenta, dentro de um ônibus lotado e barulhento, muito mais do que o trânsito.

Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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