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A saúde começa pela boca: como problemas bucais podem desencadear doenças graves

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A saúde bucal é muitas vezes negligenciada, limitada à estética ou à ausência de dor. No entanto, pesquisas mostram que problemas na cavidade oral podem ter impactos diretos e graves sobre diversos órgãos e sistemas do corpo. Entre as complicações mais relevantes estão doenças cardiovasculares, agravamento do diabetes e até alterações neurológicas como o Alzheimer.

A relação entre saúde bucal e coração não é nova, mas ainda é subestimada.  Entre os riscos mais bem documentados está a relação entre infecções bucais — principalmente a periodontite — e doenças cardiovasculares. A periodontite é uma inflamação crônica que afeta o tecido de suporte dos dentes, permitindo que bactérias entrem na corrente sanguínea. Essas bactérias podem atingir vasos e artérias, promovendo inflamações que favorecem o acúmulo de placas de gordura (aterosclerose), elevando o risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

Segundo o Instituto do Coração (InCor), infecções bucais podem estar associadas a até 45% dos casos de doenças cardiovasculares. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) alerta que pessoas com periodontite têm um risco 20% a 50% maior de desenvolver problemas cardíacos, mesmo após controle de fatores tradicionais como hipertensão, colesterol alto e tabagismo.

Um risco ainda mais direto é a endocardite bacteriana, infecção grave no revestimento interno do coração. Bactérias orais podem alcançar o coração por meio da corrente sanguínea, especialmente em pacientes com válvulas cardíacas artificiais, próteses ou malformações congênitas. Por esse motivo uma avaliação odontológica criteriosa se faz necessária para que esses pacientes recebam atendimento individualizado e reduzam os riscos de maiores complicações cardiovasculares.

Diabetes e boca: uma via de mão dupla

A relação entre saúde bucal e diabetes é bidirecional. Por um lado, pacientes diabéticos têm maior predisposição a desenvolver doenças periodontais, pois os níveis elevados de glicose dificultam a resposta imunológica e aumentam a inflamação local. Por outro lado, a presença de infecção periodontal crônica pode dificultar o controle glicêmico, aumentando a resistência à insulina criando um ciclo vicioso perigoso. Manter a gengiva saudável com consultas periódicas ao dentista pode contribuir para o controle de diabetes e vice-versa.

O que a boca revela sobre o cérebro

Nos últimos anos, pesquisas vêm revelando uma ligação entre doença periodontal e Alzheimer. Estudos internacionais identificaram a presença da bactéria Porphyromonas gingivalis — comum em infecções gengivais — em cérebros de pacientes com Alzheimer. Acredita-se que toxinas produzidas por essas bactérias possam atravessar a barreira hematoencefálica, desencadeando inflamações que contribuem para a formação das placas amiloides, características da doença.

Embora ainda em investigação, essas descobertas reforçam o papel da inflamação crônica de origem bucal como possível fator de risco para o declínio cognitivo, o que reforça ainda mais a necessidade de visitas periódicas ao dentista para manutenção da saúde bucal,

Saúde integrativa: a visão de um corpo como um todo

 

A visão fragmentada da saúde, que trata dentes, coração, intestino e cérebro como sistemas isolados, está ultrapassada. O avanço das pesquisas evidencia que a boca é uma porta de entrada para a saúde — ou para a doença. Infecções e inflamações na cavidade oral podem desencadear ou agravar doenças crônicas, muitas vezes silenciosas.

Por isso, o cuidado com a saúde bucal deve ser integrado ao acompanhamento clínico geral. Escovação adequada, uso diário do fio dental, alimentação saudável e consultas regulares ao dentista são atitudes simples que protegem não apenas os dentes, mas o coração, o cérebro e o metabolismo.

A saúde começa pela boca, mas o impacto dela vai muito além.

Salete Fernandes – Foto: IAGO FUNDARO

Salete Meiry Fernandes Bersan é Cirurgiã-dentista, Mestra e Doutora em Odontologia na área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica pela FOP/UNICAMP.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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