Por Emanuel Pessoa
O voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que absolveu o ex-presidente Jair Bolsonaro e cinco aliados na ação penal sobre a trama golpista, teve impacto imediato no cenário político e jurídico do país. Após horas de análise, Fux também votou pela condenação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do general Braga Netto, por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Essa combinação de absolvições e condenações cria um cenário que requer cautela.
O que chama atenção no voto de Fux é a aparente contradição: apesar de ter condenado diversos manifestantes do 8 de janeiro, ele abriu espaço para absolver o ex-presidente e aliados, levantando dúvidas sobre a unidade do STF e a consistência de seu entendimento. A leitura do voto sugere que o ministro buscou traduzir o sentimento de uma parte razoável da população ao estabelecer que, para caracterizar crime de golpe, seria necessário demonstrar um perigo real e concreto para a queda do Governo, o que, no caso, ficou claro que os manifestantes de 8 de janeiro não representavam.
Além disso, a decisão indica mudanças no entendimento do Supremo sobre como julgar atos que atentam contra a democracia. O voto cria precedentes que podem ser interpretados de maneiras distintas, dependendo do posicionamento político e jurídico adotado por tribunais em casos futuros. O efeito da decisão vai além da análise técnica, mas tem implicações políticas significativas, fortalecendo setores que apoiam Bolsonaro e influenciando o debate eleitoral que se aproxima.
O efeito prático é evidente. A decisão reforça a narrativa de perseguição política entre grupos da direita, alimenta discursos de injustiça e pode estimular argumentos jurídicos em prol de anistias. Trata-se de um exemplo claro de como decisões do Judiciário podem reverberar diretamente no cenário político, moldando a percepção pública sobre a democracia, mesmo sem intenção explícita.
Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.
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