Com 11 votos contrários, base do governo impede remanejamento orçamentário pedido por Carlos Fontes
Por Dennis Moraes – SB24Horas
A sessão desta terça-feira (9) na Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste expôs, mais uma vez, a fratura política entre governo e oposição e levantou um debate urgente sobre o futuro da saúde pública da cidade. A análise da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, contida no Projeto de Lei nº 69/2025, terminou com a rejeição da emenda substitutiva apresentada pelo vereador Carlos Fontes (União Brasil), que previa remanejamentos internos no orçamento para ações consideradas fundamentais por parte dos parlamentares: a compra de duas ambulâncias de UTI neonatal, a pavimentação de ruas no Jardim Adélia e no bairro Beira Rio e a construção de um ecoponto na Zona Sul.
A emenda, construída com apoio técnico dentro da própria Câmara, foi derrubada por 11 votos contrários dos vereadores da base governista. Votaram contra Alex Dantas (PL), Cabo Dorigon (Podemos), Careca do Esporte (PRD), Celso Ávila (Solidariedade), Esther Moraes (PV), Gustavo Bagnoli (PL), Joi Fornasari (Democracia Cristã), Juca Bortolucci (MDB), Lúcio Donizete (Agir), Marcelo Cury (Republicanos) e Tiquinho TK (Democracia Cristã). A sessão foi presidida pelo vereador Rony Tavares (Republicanos), que não vota, conforme o regimento.
A rejeição da proposta reacendeu um alerta crítico: Santa Bárbara d’Oeste não possui ambulâncias específicas para transporte neonatal ou para atendimentos de suporte avançado voltados à maternidade e à saúde infantil. Nos últimos meses, a cidade tem enfrentado uma deterioração acelerada na estrutura de atendimento emergencial, marcada por falta de veículos adequados, ambulâncias quebradas e remanejamentos improvisados que colocam em risco pacientes de todas as idades. A ausência de UTIs móveis especializadas expõe bebês, gestantes e recém-nascidos a situações de extremo risco. Esse cenário fez com que, recentemente, profissionais da saúde precisassem improvisar o transporte de um recém-nascido dentro de uma caixa de papelão por falta de incubadora e estrutura apropriada.
Fontes utilizou esse caso como exemplo da gravidade do problema. Segundo ele, rejeitar a emenda é rejeitar a chance de reverter um quadro que “se tornou rotina e já ultrapassou todos os limites aceitáveis”. O vereador afirmou: “Votar contra essa emenda é votar contra vidas. Hoje Santa Bárbara é uma cidade sem ambulâncias adequadas, sem condições mínimas de dar resposta rápida em emergências neonatais. A saúde está se tornando um caos diário, e ignorar isso é fechar os olhos para o sofrimento das famílias.”
A fala de Fontes encontrou apoio de vereadores como Paulo Monaro, presidente da Câmara, que criticou abertamente a gestão municipal. Para ele, o descompasso entre a propaganda institucional e a realidade é evidente. Monaro relembrou promessas não cumpridas — como a UTI infantil anunciada ainda no período eleitoral — e ressaltou que a população vive uma rotina de filas, falta de estrutura e demora no atendimento. “A cidade que aparece nas redes sociais da Prefeitura não é a mesma cidade que o povo vive. A caneta pesa porque representa votos, e eu jamais vou usar essa caneta para justificar o abandono da saúde pública”, afirmou.
Apesar da pressão, a base governista sustentou o voto contrário. O líder do governo, Juca Bortolucci (MDB), afirmou que as emendas apresentavam vício de origem por não detalharem fonte de custeio e que a Prefeitura já possui planejamento próprio para investimentos em saúde e infraestrutura. Na mesma linha, o vereador Celso Ávila (Solidariedade) defendeu que, sem previsão técnica, a emenda seria inviável, argumentando que o orçamento municipal não comportaria um “pacote de obras” desse porte. Ávila reforçou que sua bancada busca verbas externas por meio de deputados aliados, método que considerou mais adequado para garantir avanços estruturais.
Já o vereador Cabo Dorigon (Podemos) alertou sobre impactos na Secretaria de Obras, afirmando que o remanejamento poderia paralisar investimentos já planejados. Outros parlamentares, como Joi Fornasari, reconheceram a gravidade das demandas — especialmente a precariedade da pavimentação no Beira Rio — mas mantiveram o voto contrário sob justificativa de responsabilidade fiscal.
O debate, carregado de críticas, interrupções e mensagens de moradores enviadas em tempo real aos vereadores, deixou evidente a insatisfação crescente da população com as condições da saúde municipal. Em um momento em que Santa Bárbara enfrenta escassez de ambulâncias, equipamentos defasados e crescente dependência de outras cidades para atendimentos complexos, a rejeição de recursos para UTIs neonatais reforça a percepção de que a crise ainda está longe de ser superada.

No final da sessão, a emenda caiu, e a LDO segue para 2026 sem as alterações propostas por Fontes. A decisão mantém a cidade sem perspectiva imediata de renovação da frota emergencial e sem ações específicas voltadas à saúde neonatal, enquanto bairros periféricos continuam aguardando obras prometidas há anos. A discussão continua no Legislativo — mas, nas ruas e nas unidades de saúde, o drama é diário e já não cabe mais ser adiado.





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