O tráfico na Rocinha trocou o foguete pelo torpedo. Menores de idade recrutados por traficantes da favela — onde há uma UPP desde setembro do ano passado — estão usado a tecnologia para alertar os criminosos sobre a chegada dos PMs. Nas esquinas dos becos da localidade conhecida como Roupa Suja, os olheiros, que antes usavam rojões ou pipas para avisar sobre operações, agoram mandam mensagens de texto e fazem ligações de celular.
O próprio comando da UPP da favela admite a resistência da criminalidade na região e a dificuldade para patrulhar as vielas estreitas.
— É, sem dúvida, a área mais difícil de atuar. Como é o local mais pobre da comunidade, os garotos têm aceitado, por R$ 200 por semana, ficar com os celulares nas mãos — conta o comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos.
Segundo o major, numa das mensagens um menor escreveu: “policial tá subindo”. Desde janeiro, pelo menos três apreensões de menores flagrados com celulares na Roupa Suja foram registradas na 15 DP (Gávea).
— Depois que perceberam que estávamos de olho, eles estão mandando mensagens mais simples, como “oi” — conta o major.
À frente da delegacia há 15 dias, o delegado Orlando Zaccone prometeu instaurar um inquérito para investigar a atuação do tráfico na comunidade:
— Já apreendemos celulares pré-pagos. Mas sabemos que não tem mais morteiro: os olheiros trabalham com celulares — afirma.
Um confronto a cada duas semanas
As vielas da Roupa Suja sofrem com a falta de estrutura. São montanhas de lixo, esgoto jorrando a céu aberto e ruas mal iluminadas. Tudo isso, explicam os policiais, prejudica o trabalho nas rondas a pé. Um confronto armado acontece no local a cada 15 dias, pelo menos.
— Pela quantidade de drogas apreendidas, não há dúvidas de que o tráfico continua lá dentro — afirma Orlando Zaccone.
De acordo com o major Edson Santos, nenhuma das 80 câmeras de monitoramento instaladas na Rocinha está na Roupa Suja. O monitoramento ajudou, segundo ele, a concentrar criminosos nessa localidade.
Fonte: Paolla Serra Extra