24 de abril de 2024

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Sobre privatizações de Petrobrás e Correios

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Por Cássio Faeddo

 

Em mais uma de suas promessas de planos infalíveis para salvar o país, o ministro Paulo Guedes declarou recentemente que o governo precisa agilizar as privatizações de Correios e Petrobras.

Afirmou que os Correios correm o risco de se tornarem uma empresa irrelevante em dois ou três anos. O mesmo destino, de perder valor, estaria reservado à gigante estatal Petrobras, pois na visão de Guedes, o mundo inteiro está indo em direção à economia verde e não necessitará mais de combustíveis fósseis.

Mesmo que houvesse um traço de razão nas afirmações, fica claro que Paulo Guedes é daqueles péssimos vendedores que desvalorizam seus produtos no momento de vendê-los.

Guedes pode até ser um economista com boa formação, afirmando ter lido Keynes no original diante de seus pares, mas deixa a desejar quando o assunto é o interesse nacional.

Perguntamos, a China negociaria as suas estatais de energia em um momento de escassez energética? Não, mas Paulo Guedes diz que é ótimo negócio.

Paulo Guedes sabe, mas os incautos aos quais ele dirige tais absurdos talvez não. Combustível é o fim menos nobre para o petróleo.

O petróleo é matéria prima para a indústria química e serve para a fabricação de produtos como cosméticos, tintas, solventes, roupas, resina, parafinas, conservantes, corantes, flavorizantes, produtos plásticos, benzeno em alguns analgésicos, produtos de limpeza como detergente e desengordurantes, borracha sintética (para pneus, tênis e calçados, por exemplo), asfalto, giz de cera e até goma de mascar, como ilustrações.

Paulo Guedes sabe de tudo isso com certeza, mas prefere dizer que economia verde vai engolir a Petrobras. Bilhões de veículos, para Guedes, serão substituídos na velocidade de dobra espacial de “Jornada nas Estrelas”. É a mesma conversa de quem professa que tudo agora é indústria 4.0, decretando o fim de produção manufaturada e do emprego. Já conhecemos o destino das certezas como as narradas na obra “O fim da história” de Francis Fukuyama.

Entregar a energia para uma estatal norueguesa ou chinesa definitivamente não parece uma boa ideia em termos de soberania em tempos de Brexit.

Quanto aos Correios, é uma empresa de logística lucrativa, com ampla capilaridade, que faz chegar aos mais distantes locais do país toda espécie de encomenda, no imenso e crescente mercado de compras remotas.

Para Guedes os Correios perderão valor e sucumbirão à concorrência que prestará o mesmo serviço. Paulo Guedes precisa sair da Faria Lima urgentemente para conhecer os rincões deste país.

Em um tempo de crescimento vertiginoso de negócios on line, o ministro da economia desvaloriza e quer vender na sequência a estatal de logística.

O problema nunca foi uma empresa ser estatal ou privada, mas como se lida com a gestão. Acreditar que não ocorre corrupção privada, com custo na ponta final, o consumidor, é um devaneio brasileiro.

Prejuízo, os Correios não dão, tendo superávit nos últimos 20 anos, e repassado 73% dos resultados positivos para seu acionista, o governo federal.

A história é a mesma, elegemos gestores que têm como solução, em face de inépcia gerencial, o repasse de nossos ativos depreciados para a iniciativa privada.

A depreciação ocorre por todos os meios, até com declarações que desvalorizam as empresas antes de vendê-las.

As privatizações devem ser amplamente debatidas na campanha eleitoral de 2022, mas com dados e fatos. Não se pode manipular o eleitor com temas polêmicos, a maioria irrealistas e sobre costumes, para esconder assuntos de vital importância para a soberania nacional.

 

Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direito. Especialista em Ciências Políticas – USCS. MBA em Relações Internacionais. FGV/SP.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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