Recrutamento e retenção de talentos: as habilidades mais valorizadas pelo mercado

Atrair e reter talentos não é uma tarefa tão simples. Sabendo disso, as empresas costumam oferecer vantagens corporativas, como benefício alimentação, vale-refeição, plano de saúde, auxílio-creche, entre outras. No entanto, a estratégia não parece ser suficiente, considerando a lacuna entre pessoas que buscam uma oportunidade de emprego e a dificuldade dos profissionais de RH de preencherem vagas.

O Brasil enfrenta esse paradoxo no mercado de trabalho. O país soma 8,2 milhões de pessoas desempregadas, conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em novembro de 2023. Por outro lado, recrutadores afirmam que há escassez de profissionais qualificados para as novas demandas das empresas.

A Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) afirma que muitos perfis almejados não estão disponíveis. A situação se deve, em parte, às transformações que estão ocorrendo no mercado de trabalho, impulsionadas por fatores como tecnologia, sustentabilidade e globalização. 

O mais recente relatório Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial, estima que 69 milhões de empregos serão criados até 2027. Em contrapartida, cerca de 83 milhões de funções serão eliminadas. 

No cenário previsto, saem na frente aqueles profissionais que podem se ajustar rapidamente às novas situações, tecnologias e demandas, como afirma o CEO da Qranio, Samir Iásbeck, em entrevista à imprensa. 

O que as empresas procuram na hora da seleção?

As habilidades interpessoais, também chamadas de soft skills, estão liderando nos interesses dos recrutadores na hora da seleção. “Quanto mais sênior é uma posição, maior o peso da soft skills para a tomada de decisão sobre o candidato mais adequado para a função”, afirma o especialista em recrutamento, Thiago Leitão, em entrevista à imprensa. 

Ainda de acordo com o relatório Future Jobs, as habilidades mais valorizadas em 2023 foram: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem; resolução de problemas complexos; pensamento crítico e análise; criatividade, originalidade e iniciativa; liderança e influência social; uso de tecnologia, monitoramento e controle; design e programação de tecnologia; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; raciocínio, resolução de problemas e ideação. 

Boa parte das habilidades citadas pode ser considerada como uma soft skill, ou seja, representa formas de comportamento e interação interpessoal. Thiago explica que elas são identificadas por meio de dinâmicas em grupo, testes comportamentais e avaliação de referências dos candidatos. 

Brasil é o país com maior índice de turnover do mundo

Não basta apenas contratar os profissionais mais qualificados e competentes do mercado, é preciso mantê-los satisfeitos e engajados na organização. A retenção de talentos é um dos grandes desafios dos profissionais de RH. 

Levantamento realizado pela Robert Half, a partir dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), revelou que o Brasil é o país com maior índice de turnover no mundo. No último ano, chegou a uma taxa 1,4 vezes maior do que em 2021. 

A CEO do Infojobs, Ana Paula Prado, explica que os custos da rotatividade de funcionários ultrapassam o mero ciclo de demissão e contratação. Na verdade, chegam a influenciar igualmente a eficácia operacional, a dinâmica cultural da empresa e sua habilidade de cultivar relacionamentos sólidos com clientes e fornecedores.

“Portanto, investir em estratégias para reduzir a rotatividade de funcionários é uma decisão financeiramente sensata e benéfica para o sucesso a longo prazo da empresa”, afirma em entrevista à imprensa. 

De acordo com a ABRH, algumas medidas podem ajudar. A oferta de benefícios corporativos é uma entre as muitas ações para a retenção de colaboradores. O clima organizacional, a oportunidade de propor melhorias e o reconhecimento do gestor são outras formas de manter os profissionais motivados e comprometidos com a organização. 

Além disso, a ABRH sugere oferecer “benefícios extras”, além dos tradicionais já conhecidos pelo mercado, que possam garantir maior motivação e engajamento da equipe. O convênio com academias, como o benefício academia gympass, o day-off no dia do aniversário, o vale-cultura e o convênio com serviços de terapia são algumas das novas opções.

Tendências para o futuro

O relatório Future of Jobs também revelou que as principais alavancas de transformação, até 2027, incluem a ampliação do acesso digital nas empresas e a aplicação mais ampla de governança no que diz respeito ao ESG (Environmental, Social and Governance). 

Além disso, o estudo prevê a adoção de novas tecnologias e o aumento do custo de vida. As tendências devem afetar tanto a demanda, quanto a oferta de trabalho, criando  oportunidades e desafios para as empresas e os profissionais.