Por Dennis Moraes
Vivemos tempos em que a transparência virou um bordão bonito na boca de muitos, mas que na prática é tratada como um detalhe dispensável, quase um capricho do cidadão curioso. Quando o poder público comete falhas — não pequenas, mas graves — no dever de informar e dar acesso à população sobre os contratos firmados, o que vemos muitas vezes é a tentativa de transformar o descaso em simples “erro de sistema”. Uma cortina de fumaça para disfarçar o que, na essência, é o desrespeito ao princípio mais elementar da administração pública: a publicidade dos atos.
É inacreditável como alguns preferem zombar da inteligência da sociedade do que admitir falhas. “Não houve dolo”, dizem. “Todo mundo sabia que existia”, justificam. Como se a formalidade da divulgação fosse um luxo, não uma obrigação. Como se fosse normal que um contrato com impacto direto na vida urbana fique invisível por anos sem que ninguém tenha que prestar contas.
Não se trata de caçar bruxas. Trata-se de cobrar responsabilidade. O cidadão tem o direito — não o favor — de saber como são utilizados os recursos públicos, quais compromissos foram assumidos, que empresas prestam serviços em seu nome. E o poder público tem o dever — não a gentileza — de garantir esse acesso de forma ativa, clara e tempestiva.

Ignorar isso é naturalizar a opacidade. É admitir que o sistema funcione na base da confiança cega, mesmo diante da montanha de exemplos que provam que, onde há sombra, há espaço para o abuso. Quando o controle social é tratado com desdém e ironia, perde-se mais do que a credibilidade institucional: perde-se a chance de evoluir.
É urgente resgatar o valor da transparência como pilar, e não como vitrine. Porque enquanto alguns tratam erros como piada, a população continua sendo feita de espectadora — sem acesso, sem resposta, e o pior: sem respeito.
Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br





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