Por Rafael Cervone
Em abril último, escrevi um artigo intitulado “A guerra nossa de cada dia”, publicado em diversos jornais, que abordava a gravidade do quadro da segurança pública no Brasil. Dados recentes da pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) reforçam essa preocupação ao revelar os danos que a criminalidade tem causado ao setor industrial.
Nos últimos 12 meses, 54% das 247 empresas pesquisadas relataram ter sido vítimas de crimes, sendo os mais comuns roubos e furtos de bens, golpes cibernéticos e falsificação de produtos. Dentre os prejuízos econômicos, o mais significativo é a venda de produtos não conforme, apontada como uma atividade inaceitável por 66% das empresas consultadas. Esse fenômeno afeta 46% das empresas e tem registrado crescimento expressivo, especialmente no e-commerce, reflexo direto da falta de controle e fiscalização.
A falsificação de produtos e a comercialização de itens ilegais deterioram a competitividade, comprometendo condições de mercado e gerando efeitos em cascata ao longo das cadeias produtivas. Segundo o Anuário de Mercados Ilícitos Transnacionais (2023), produzido pela FIESP, apenas em 2022, os segmentos ilícitos que competem com as fábricas paulistas movimentaram R$ 23,36 bilhões.
Outro ponto crítico é o aumento dos gastos com segurança privada, solução cada vez mais adotada pelas indústrias. Esses custos desviam recursos que poderiam ser alocados para inovação e crescimento, agravando ainda mais o cenário.
É urgente a implementação de medidas de curtíssimo prazo para conter o avanço do crime. Ações de inteligência, policiamento ostensivo e o uso de tecnologias para mapeamento e prevenção são indispensáveis. Também se faz necessária uma revisão do Código Penal para que as punições sejam proporcionais à gravidade dos crimes, além da redução dos subterfúgios legais que facilitam a progressão de penas e a soltura de criminosos.
A longo prazo, a melhoria da qualidade do ensino, a implementação de tempo integral nas escolas e a criação de oportunidades de trabalho são essenciais para afastar os jovens do aliciamento por facções criminosas. A hora de agir é agora.
Rafael Cervone é presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
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