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O dia em que a câmara barbarense se ajoelhou diante do Executivo

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Por Dennis Moraes

O que aconteceu nesta última sessão da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste não pode, de forma alguma, ser normalizado. Foi um espetáculo lamentável de submissão institucional, onde a maioria dos vereadores — liderados pela atual presidência da Casa, nas mãos do vereador Júlio César Santos da Silva, o Kifu (PL) — rasgou publicamente sua função fiscalizadora para se transformar em mero braço de apoio ao prefeito Rafael Piovezan (PL).

Não é exagero. É constatação. Diante de um projeto de impacto orçamentário relevante — o famigerado PL 65/2025, que autoriza a adesão ao consórcio CISMETRO — o que se viu foi uma chance histórica de o Legislativo exercer sua autonomia e exigir transparência. A oposição apresentou emendas bem construídas e um projeto substitutivo absolutamente coerente, que garantiria prestação de contas anual e mecanismos concretos de controle. Mas nada disso foi aceito.

O que se viu foi o contrário: uma blindagem descarada, com a presidência atropelando comissões, negando o rito legal, e ainda se escondendo por trás de artigos do regimento como se fossem escudos. Um show de horrores, conduzido com autoritarismo e complacência — e, mais grave ainda, com a conivência de um grupo de vereadores que se recusa a cumprir o papel para o qual foi eleito.

A base de apoio do prefeito na Câmara se transformou num reduto de bajuladores. Gente que antes batia no peito pedindo voto com discurso de independência, hoje se entrega sem constrangimento ao “colinho político” do Executivo. Isso não é só vergonhoso — é traição ao eleitor.

Quantos desses vereadores não falaram em campanha que lutariam por transparência, por fiscalização, por respeito ao dinheiro público? E hoje — diante de uma emenda que colocava o CISMETRO contra a parede, que exigia responsabilidade imediata — simplesmente votaram contra a transparência. Preferiram aprovar um contrato de quatro anos sem mecanismos de revisão. Entregaram o município, de bandeja, ao escuro.

E se não bastasse isso, vimos vereadores desaparecendo na hora da votação, como o caso de Cabo Dorigon, que coassinou uma emenda com a vereadora Esther Moraes e, no momento decisivo, simplesmente sumiu. Como disse Celso Ávila em seu desabafo: “tomou Doril”. O tipo de “parlamentarismo” que deveria envergonhar até quem mais relativiza a política.

O presidente Kifu, que chegou a esse cargo com apoio unânime, parece ter se esquecido que a Câmara Municipal é um Poder autônomo, não um departamento da Prefeitura. Transformou o Legislativo num puxadinho do Executivo. E para quem ainda duvidava: a cada sessão ele deixa mais claro quem de fato está sentado naquela cadeira. Não é Kifu. É Rafael Piovezan.

O mais revoltante é ver tantos vereadores, muitos com histórias de luta política e votos significativos, abrindo mão da própria independência, escolhendo a conveniência de um grupo político em vez de honrar os votos que receberam. Isso não é política. Isso é covardia.

E não estamos falando de ideologia. Estamos falando de função institucional. A Câmara existe para fiscalizar, propor melhorias, vigiar os atos do Executivo. Quando essa missão é abandonada por vaidade, por medo, por barganha, por ambição eleitoral ou por promessas de bastidores, quem perde é a cidade inteira.

Santa Bárbara d’Oeste viveu, nesta sessão, um daqueles dias que entram para a história — mas pelos piores motivos. O povo estava assistindo. Os professores estavam assistindo. Os servidores estavam assistindo. E a memória política dessa cidade é mais longa do que alguns imaginam.

A democracia se enfraquece quando os que deveriam defendê-la se calam. Quando os que deveriam representar o povo viram as costas para ele. Mas a história é implacável com os covardes. E o povo saberá lembrar.

Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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