A Índia com 1,4 bilhões de habitantes já está vacinando cidadãos acima de 45 anos. O leitor pode pensar, tudo isso é culpa do presidente do Brasil. Afinal éramos a 8ª economia do mundo e agora não temos equipamentos, insumos hospitalares e vacinas. Tivermos dificuldades com respiradores e pessoas morrem sem oxigênio com a Covid-19.
Em parte, a responsabilidade do governo federal, ao negligenciar a compra de vacinas em 2020, e sabotar uma cirúrgica ação nacional de isolamento, é real. Todavia, a responsabilidade do atual governo se limita a isso. É muito, mas está limitada a esses fatos.
Não temos equipamentos e vacinas porque o Brasil acomodou-se em ser um país agrário, vendendo apenas soja e gado para o mundo. Isso trouxe riqueza para um círculo limitado de pessoas e empresas no país.
A JBS, envolvida com conhecidos escândalos e com amizades com todos os governos passados, é a maior empresa de proteína animal do mundo. Houve até boato que estaria interessada na compra da TV Globo. Enquanto isso, de 1990 até agora, o Brasil viu diminuir seu parque industrial que representava 20% do PIB para menos de 10% atualmente.
As indústrias foram e estão indo embora há muito tempo. Poucas são eficientes. Nossos principais empregos são uberizados, trabalhadores em serviços precários. Abandonou-se o país e seus melhores empregos à própria sorte.
O Brasil não tem vacinas porque Bolsonaro não as comprou em 2020, mas também não temos vacinas, insumos, tecnologia, equipamentos e tudo mais, porque durante 30 anos os governos acreditaram que o Brasil é o celeiro do mundo.
O Brasil não pode se conformar em ser só isso.
Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direito. MBA em Relações Internacionais – FGV/SP