Por Guibson Trindade
A população negra ocupa uma posição central nas discussões sobre diversidade, equidade e inclusão no país, especialmente no ambiente corporativo e nas pautas globais de sustentabilidade trazidas pela COP30, que acontece em novembro, em Belém. Embora, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretos e pardos representem 55,5% da população brasileira, dados do Instituto Ethos mostram que menos de 13% dos cargos de alto escalão em empresas são ocupados por pessoas negras, e mulheres negras, que somam 29% da população, ocupam apenas 3% dos postos de liderança.
Os números falam, e a segregação racial torna-se evidente em cada etapa da carreira. Ainda segundo o Instituto Ethos, apenas 5,9% dos cargos nos Conselhos de Administração são ocupados por negros, e 13,8% nas diretorias, enquanto entre trainees e estagiários a presença negra pode chegar a 70,8% e 60,8%, respectivamente, o que evidencia a dificuldade de ascensão real. A disparidade salarial reforça ainda mais o problema: pretos ganham, em média, R$ 2.403 reais, pardos R$ 2.485 reais, enquanto brancos recebem R$ 4.153 reais. Mulheres negras com ensino superior têm rendimento médio de R$ 3.271 reais, contra R$ 5.303 reais das mulheres brancas. Já homens negros recebem menos que brancos na mesma escolaridade, R$ 5.755 reais contra R$ 8.173 reais, respectivamente.
O desemprego afeta proporcionalmente mais pessoas negras: 7,5% dos pretos e 7% dos pardos estão desempregados, contra 4,9% dos brancos. Além disso, mais de 40% dos negros trabalham na informalidade, sem garantias legais, segundo o portal G1. E mais de 60% dos negros vivem com renda de até um salário mínimo, dada a persistente desigualdade que também impacta condições básicas de moradia e saneamento.
Paralelamente, o racismo ambiental evidencia a distribuição desigual dos impactos da degradação socioambiental, que recaem mais intensamente sobre pessoas negras e indígenas. No Brasil, 73% dos moradores de favelas são negros, uma população exposta a condições precárias de moradia, saneamento e coleta de lixo. Apenas 88,6% dos domicílios negros contam com coleta regular de lixo, enquanto o índice salta para 94,5% entre os domicílios brancos, segundo dados do IBGE e do Movimento de Combate ao Racismo Ambiental. Esses impactos demonstram como a exclusão social e racial se entrelaçam à crise ambiental, reforçando a urgência da pauta antirracista nos debates da COP30.
O Brasil está pautando para a COP30 a inclusão de raça e gênero como critérios centrais para investimentos e políticas sustentáveis. Segundo o Globo, as empresas que investem em diversidade racial apresentam maior inovação e resiliência, elementos essenciais para a transição socioambiental. Porém, segundo os mesmos dados, só 21,1% das maiores empresas brasileiras adotam políticas afirmativas para cargos executivos de negros, o que indica a necessidade de ações estruturantes e metas claras.
O protagonismo da população negra é chave para enfrentar as desigualdades e desafios climáticos que o Brasil e o planeta enfrentam. Promover a equidade racial não é apenas um imperativo moral, mas também uma estratégia necessária para posicionar o Brasil como referência em sustentabilidade, justiça social e inovação empresarial. O país tem a chance de consolidar o compromisso internacional de combate ao racismo estrutural e ambiental durante a COP30, impulsionando uma agenda em que justiça racial e justiça climática caminhem unidas.
Guibson Trindade, gerente executivo do Pacto de Promoção da Equidade Racial
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