No mundo de hoje, com a abundância de alimentos em praticamente todos os lugares, pode ser até difícil imaginar um período em que a comida era escassa — e em que cada refeição era uma conquista a ser feita.
No entanto, houve um tempo em que isso era uma realidade.
Nossos ancestrais passavam boa parte de seu tempo em busca de alimentos — e a verdade é que os alimentos encontrados eram bem diferentes daqueles que comemos hoje.
Esse período da evolução humana é chamado de período paleolítico — e a ênfase em comer alimentos disponíveis apenas nesta época é o que embasa o nome da chamada dieta paleolítica ou dieta paleo.
Agora, pesquisadores da Universidade do Colorado afirmam que essa diferença alimentar pode estar ligada à doença de Alzheimer.
Isso acontece porque, segundo eles, a maneira única como o cérebro de nossos ancestrais funcionava está relacionada a um tipo de açúcar chamado frutose, que encontramos em toda parte, especialmente em refrigerantes e doces.
O estudo em questão
O estudo aprofunda como o cérebro dos primeiros seres humanos produzia frutose quando a comida era escassa.
Esse açúcar desempenhava um papel útil na limitação de algumas funções cerebrais, como a memória, para que a pessoa pudesse se concentrar na busca por alimentos.
Esse antigo truque de sobrevivência era um salva-vidas na época e, o mais importante, era reversível.
No entanto, agora, em um mundo onde somos bombardeados com frutose vinda de todas as direções, esse mecanismo de sobrevivência pode estar se voltando contra nós.
Frutose e o Alzheimer
O Alzheimer é uma doença terrível que afeta milhões de pessoas — e é a sétima principal causa de morte em todo o mundo.
Os tratamentos atuais não têm sido suficientes para deter a doença, e com nossas dietas em constante mudança, cada vez mais voltadas para carboidratos refinados e adoçantes, a situação está piorando.
Essa pesquisa mais recente reforça a ideia de que nossos hábitos alimentares podem desempenhar um papel significativo no desenvolvimento do Alzheimer.
E, conforme os pesquisadores mostraram, a frutose em específico parece fazer com que nosso cérebro atue como se estivesse sempre nesse modo de “baixa potência” — isto é, focado na sobrevivência, em vez de desempenhar outras funções como memória ou raciocínio.
Isso tudo ocorre por causa do nosso “modo de sobrevivência”.
Quando nosso corpo está em modo de sobrevivência, a frutose interfere na forma como nossas células usam energia.
A presença de frutose sinaliza para as células que é hora de armazenar a energia como gordura em vez de usá-la imediatamente.
Essa mudança leva a:
- resistência à insulina,
- aumento no armazenamento de gordura, e
- inflamação.
Sendo que estes 3 itens acima são os sinais característicos da síndrome metabólica, que é um grande alerta para doenças como o Alzheimer.
Como o mundo moderno influencia
O principal ponto notado pelo estudo — além da perda de uma certa enzima que nossos ancestrais possuíam — é o fato de que a nossa dieta ocidental está repleta de:
- açúcares adicionados,
- alimentos ricos em sal, e mesmo
- álcool.
Sendo que esses alimentos e bebidas acima contribuem para manter nossos cérebros no “modo de sobrevivência” que mencionamos, e que é ainda mais impulsionado pela frutose.
A solução, obviamente, passa por consumir menos açúcares, menos produtos processados, e beber com mais responsabilidade.
Porque é isso que vai permitir que o seu cérebro funcione de maneira otimizada — e, conforme imaginam os cientistas, fique mais protegido contra o mal de Alzheimer.
Frutose e as frutas — uma confusão comum
Agora, uma confusão comum é a de ouvir o nome “frutose” e pensar imediatamente nas frutas.
E é verdade: as frutas também contêm frutose.
No entanto, isso não é motivo de preocupação.
Porque a boa notícia é que, em geral, as frutas geralmente não ativam esse antigo mecanismo de sobrevivência.
Apesar do nome, frutas inteiras têm muito menos menos frutose (e muito mais fibras) do que os alimentos processados que consumimos hoje.
Sem contar que nem todas as frutas são iguais: se, por um lado, um caqui maduro ou uma manga são bastante doces…
Por outro, temos frutas como abacate, coco, e morango, que são bem mais baixas em açúcar.
O fato é que os pesquisadores do estudo indicam que mais estudos são necessários para determinar com certeza as vias metabólicas envolvidas.
Porém, os primeiros indícios são bastante convincentes de que consumir alimentos ricos em frutose (especialmente os refinados que falamos acima: doces, refrigerantes, e por aí vai) pode aumentar as chances de Alzheimer, e torná-lo ainda mais prevalente do que já é.
Em conclusão, o que esse estudo evidencia é que as nossas escolhas de estilo de vida — especialmente nossa alimentação — podem ser nossos maiores amigos (ou nossos piores inimigos) em termos de doenças degenerativas como o Alzheimer.
A cada prato que comemos, estamos fazendo uma escolha. Então, privilegie comer mais ovos, peixes, e legumes…
E menos cerveja, refrigerante, e doces processados.
O seu cérebro agradece.
Referências
- Johnson RJ, Tolan DR, Bredesen D, Nagel M, Sánchez-Lozada LG, Fini M, Burtis S, Lanaspa MA, Perlmutter D. Could Alzheimer’s disease be a maladaptation of an evolutionary survival pathway mediated by intracerebral fructose and uric acid metabolism? Am J Clin Nutr. 2023 Mar;117(3):455-466. doi: 10.1016/j.ajcnut.2023.01.002. Epub 2023 Jan 11. PMID: 36774227; PMCID: PMC10196606.
- 2022 Alzheimer’s disease facts and figures. Alzheimers Dement. 2022 Apr;18(4):700-789. doi: 10.1002/alz.12638. Epub 2022 Mar 14. PMID: 35289055.




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