Uma gripe insistente levou a produtora cultural Ana Paula Dantas, 29 anos, a procurar na internet o que os sintomas que ela apresentava poderiam ser. “Eu ficava gripada duas semanas, daí melhorava, e ficava com a garganta inflamada de novo. Acabei vendo na internet que poderia ser tuberculose”. A desconfiança levou a moradora de Brasília a uma unidade de saúde onde foi diagnosticada com a doença.
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, mas também pode ocorrer em outras partes do corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). A transmissão acontece de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio de pequenas gotas de saliva expelidas ao falar, espirrar ou tossir. Na maioria das vezes, os sintomas mais frequentes são tosse seca contínua, no início da doença, depois tosse com presença de secreção por mais de quatro semanas; cansaço excessivo; febre baixa geralmente à tarde; sudorese noturna; falta de apetite; palidez; emagrecimento acentuado; rouquidão; fraqueza e prostração.
Denise Arakaki , coordenadora do Programa Nacional de Controle da Tuberculose comenta que o histórico da doença contribui para impressão que ela não existe mais. “Por ser uma doença que existe há muitos séculos, por ter tido um declínio importante com boas ferramentas de diagnóstico, medicamentos eficazes e com a melhoria da qualidade de vida geral, a tuberculose foi sendo esquecida. No entanto, a tuberculose continua atual e tem sido uma grande companheira do crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Diagnosticar e tratar precocemente são as melhores formas de interromper a cadeia de transmissão”, explica.
No Brasil, a tuberculose é sério problema da saúde pública. Mas, nos últimos 10 anos, a incidência de casos de tuberculose no Brasil reduziu 20,2%, passando de 38,7 casos/100 mil habitantes em 2006 para 30,9 casos/100 mil habitantes em 2015. Já a taxa de mortalidade passou de 2,2 óbitos para cada 100 mil habitantes, em 2014, contra 2,6 registrados em 2004.
Para atingir a cura é preciso fazer um tratamento, que está disponível gratuitamente no SUS, por um período mínimo de seis meses, sem interrupção. Na prática, nos dois primeiros meses de tratamento o paciente já está se sentindo melhor, sem sintomas, mas falta de adesão, o abandono ou o uso irregular dos medicamentos podem causar resistência dos bacilos ao tratamento, o que complica o quadro clínico e demanda tratamento com muitos medicamentos e por um maior período de tempo (18 a 24 meses).
Em seu oitavo mês de tratamento, a produtora foi acompanhada de perto por um médico de uma unidade de saúde em Brasília, “Como fiquei quatro meses sem saber o que eu tinha, o diagnóstico já foi um pouco tarde. Quando completei seis meses de tratamento, fiz alguns exames que atestaram que eu não estava curada e necessitaria de mais três meses. O médico é muito atencioso e ele mesmo me entrega os remédios e sempre me lembra da importância de continuar o tratamento e não desistir”, explica.
Para prevenir as formas mais agressivas da doença é necessário imunizar as crianças, no primeiro ano de vida, ou no máximo até quatro anos, com a vacina BCG. O risco de transmissão é maior entre pessoas que vivem em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar.
Ana Paula deixa um alerta sobre a doença “Ainda existe um preconceito muito grande. Até minha mãe, no começo, quando soube que estava com tuberculose, achava melhor que eu não contasse para as pessoas. Muitas pessoas acham que é uma doença de gente boêmia e eu não bebo, fumo ou uso drogas. Teoricamente eu não faria parte deste estereótipo. Ao mesmo tempo que agente acha que é uma doença muito distante, não é”.
Fonte: Gabriela Rocha/ Blog da Saúde