Por Simone Borro
Nada nos prepara para sermos mães. E muito menos para sermos mães atípicas. E não há nada nesse mundo ou que eu escreva, poderá mensurar o tamanho do nosso amor e também o tamanho de nossa solidão como mães atípicas. Seja por falta de uma rede de apoio ou simplesmente ser ouvida.
E hoje posso dizer que ser mãe atípica vai muito além do que sermos reconhecidas, como mulheres guerreiras, enfrentando essa solidão, esse silenciamento e o medo de deixarmos nossos filhos.
Quantas de nós já pensamos ou a totalidade de nós?
Como ficará meu filho sem mim?
Um medo que nos assola.
Quando ouvi o diagnóstico da minha filha, meu mundo parou. Não havia cura. Só havia o agora — e o sempre. Uma luta diária de uma doença rara, até então desconhecida e incapacitante, entre dores e descobertas.
Descoberta de que teria que lutar pela inclusão e acessibilidade de minha filha em tempo que nem se falava sobre isso, entre esperanças silenciosas. Silenciosa e esperançosa, entre um medicamento e outro para trazer qualidade de vida, e uma fé que eu nem sabia que tinha.
Depois, veio a segunda dor: sua partida. Nos meus braços. No nosso carro. No nosso tempo. Uma parte de mim se foi com ela. Mas algo em mim também ficou: o compromisso de transformar a dor em ponte, o silêncio em voz, o luto em escuta.
A maternidade atípica me ensinou que não há manual, mas existe caminho. E ele fica mais leve quando andamos juntas.
Somos muitas. Invisíveis, mas reais. Fortes, mas cansadas. Amorosas, mas feridas. Somos faróis tentando iluminar noites que parecem não ter fim. Mas quando um farol encontra outro, o mar se acalma.
Hoje, desejo ser colmeia. Um lugar de aconchego, onde a escuta seja o primeiro cuidado. Onde cada mãe atípica possa pousar, respirar, se refazer. Porque quando uma mãe é ouvida, o mundo começa a mudar.
Se você é mãe atípica, saiba: não está só. Sua dor tem nome. Sua luta tem valor. Sua história tem um lugar para florescer.
COLMÉIA ATÍPICA
Simone Borro é mãe de Damaris Borro (in memoriam), mulher que encontrou na dor a força para construir caminhos de afeto e acolhimento. Bacharel em Direito, palestrante, escritora, ativista por acessibilidade e fundadora da Colmeia Atípica — uma rede de escuta e apoio para mães que enfrentam o extraordinário todos os dias.
VEJA TAMBÉM
A tarifa que sobe, o diesel que persiste e o futuro que insiste: o desafio da eletrificação no transporte coletivo
Circo para todos: Palhaços Tampa e Panela em Ártemis
Desinformação sobre autismo cresce 15.000% e acende alerta no Dia do Orgulho Autista