Senador é alvo de diversas críticas na rede
De férias no Rio de Janeiro e, por isso, alheio ao noticiário nacional, Emiliano Magalhães Netto, 26, tomava cerveja na casa de um amigo na sexta-feira retrasada quando, entre um gole e outro, o companheiro colocou um bode na prosa: “O que você acha da eleição do Renan Calheiros para a presidência do Senado?”
Representante comercial de uma empresa em Ribeirão Preto (SP), Emiliano não tem filiação partidária nem preferência política. Sobre o assunto, diz que anda “acreditando na corrupção e desacreditando na política e na ideia de que as pessoas estão no poder para melhorar a minha vida ou a vida da minha família ou, enfim, do povo”. À sua maneira, sempre acompanhou “notícias, jornais e atualidades, por gostar de ler jornal”.
— Mas nunca nada muito a fundo.
Ele, contudo, sabia que várias acusações envolviam Renan.
— Dos problemas que ele teve com a Justiça sempre estive ao par. Coisa de mensalão… a gente sempre tenta saber um pouco mais.
À pergunta incômoda que o amigo lhe havia feito, Emiliano respondeu:
— Pô, um absurdo, acho que isso não vai acontecer, não. O cara renunciou da última vez, está cheio de problemas com a Justiça.
O amigo, que navegava por sites de notícias na internet, porém, avisou que já era tarde: Renan tinha sido eleito com 56 dos 81 votos possíveis.
Emiliano reagiu com indignação.
— Fiquei muito p… Ficou todo mundo muito p… A gente não sabia da notícia.
O representante comercial imediatamente se lembrou de um site por meio do qual era possível criar petições online, o Avaaz, que o amigo lhe mostrara pela manhã. Nele, Emiliano vira, ainda antes do resultado da votação do Senado, uma petição que tentava impedir a eleição de Renan. Não titubeou, e decidiu criar uma petição de teor semelhante, agora não mais para impedir que o alagoano chegasse ao posto máximo do Senado, mas para encaminhar um pedido aos senadores para que apeassem Renan de lá.
Emiliano resolveu nomear o pedido de “Impeachment do presidente do Senado: Renan Calheiros”.
— Usei a palavra impeachment porque foi o que aconteceu com o (senador e ex-presidente Fernando) Collor e todo mundo entenderia o recado, o fim da causa.
O representante comercial então fez uma “pesquisada rápida na internet em alguns termos jurídicos para dar credibilidade à petição” e também descobriu que, com 1,36 milhão de assinaturas, era possível encaminhar um projeto de lei de iniciativa popular para deliberação do Congresso. Estabeleceu que essa seria a mesma meta da petição.
Encaminhou o formulário para sites de combate à corrupção e para blogs amigos, e a coisa se espalhou. No fechamento desta reportagem, faltavam apenas 22 mil assinaturas para alcançar o objetivo.
Emiliano descobriu que, do ponto de vista jurídico, sua petição não tem valor: legalmente, o Congresso só tem obrigação de deliberar sobre projetos de lei de iniciativa popular, mas não sobre uma petição de impeachment do presidente do Senado.
Ele não se entristeceu.
— A minha intenção foi realmente chamar a atenção da população. A indignação é muito mais do que 1,36 milhão de pessoas. Chegando lá é um grande argumento para discutir com outra pessoa: será que é certo?
Emiliano se espantou com a proporção que as coisas tomaram.
— Demorei um minuto para fazer. Fiz por fazer e acabou virando isso que virou.
Fonte: R7