A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, realizada em Belém (PA), começou com um cenário inesperado e preocupante: a baixa presença de chefes de Estado e lideranças globais. Embora o evento tenha sido celebrado como um marco para dar protagonismo à Amazônia nas discussões climáticas, a logística e os elevados custos da viagem ao Pará se tornaram um obstáculo significativo.
O encontro, que deveria reforçar a centralidade do Brasil e da região amazônica no debate mundial sobre meio ambiente, acabou sofrendo com dificuldades práticas que impactaram diretamente a presença de delegações internacionais. Hotéis com valores acima da média, passagens aéreas caras e um custo de vida inflacionado durante o período do evento desmotivaram a participação de representantes estrangeiros e até de entidades da sociedade civil.
Relatos de bastidores apontam que várias comitivas tiveram de reduzir o número de integrantes ou optar por representantes de escalão inferior devido aos gastos acima do previsto. Delegações de países com orçamento mais limitado para missões internacionais — especialmente nações africanas e de pequenos estados insulares — foram as mais afetadas.
Mesmo entre grandes potências econômicas e fundos internacionais, o impacto foi sentido: empresas e organizações enviaram equipes menores, priorizando executivos regionais. Com isso, o peso político do encontro diminuiu, e decisões estratégicas que dependem da presença de líderes e ministros ficaram comprometidas.
A ONU chegou a ampliar subsídios para representantes de países em desenvolvimento, mas as medidas não foram suficientes para garantir a plena participação. A limitação na capacidade hoteleira de Belém — e o aumento expressivo das tarifas — expôs uma fragilidade estruturante na preparação do evento, que exigiria maior planejamento para atender a um público de dimensão global.
A escolha da Amazônia como sede foi simbólica e estratégica, reforçando o papel da região no debate sobre preservação ambiental e justiça climática. No entanto, especialistas alertam que o simbolismo precisa ser acompanhado de condições reais para receber o mundo. Do contrário, o resultado pode ser o oposto do desejado: uma conferência com menor diversidade diplomática e menos poder de decisão no momento mais crítico da agenda climática internacional.
Ainda assim, movimentos ambientais, lideranças indígenas e autoridades brasileiras defendem a importância de sediar a COP na Amazônia e afirmam que o evento reforça a urgência da proteção da floresta. Para eles, a experiência deve servir como aprendizado para futuras edições, com mais planejamento, estrutura e estratégias para garantir acesso amplo e igualitário.
A COP30 continua em andamento, mas o cenário de baixa presença internacional levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre impacto simbólico e capacidade logística. Resta saber se, ao fim das negociações, os resultados estarão à altura da missão de colocar a Amazônia no centro das decisões climáticas globais — e se o custo desta escolha terá valido a pena.



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