A menos de um mês da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA), que marca os 10 anos do Acordo de Paris, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende que esta edição avance com mais ações e resultados concretos, de forma a conciliar o desenvolvimento econômico e o social. O direcionador é o cerne do documento “Visão da Indústria sobre a COP30”, em que o setor elenca suas propostas para a agenda de mudança climática.
As medidas foram apresentadas no evento Pré-COP30: O Papel do Setor Privado na Agenda de Clima, promovido pela CNI, em Brasília, nesta quarta-feira (15). O documento final será levado à COP30 como contribuição do setor industrial ao debate internacional.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, defendeu maior envolvimento e protagonismo do setor produtivo: “Todas as negociações e definições de COPs são executadas essencialmente pelo setor produtivo. Por isso é tão importante termos um mecanismo como a SB COP. A melhor forma de participar e termos resultados é sermos cúmplices do processo. O ser humano deve estar no centro das discussões, porque não há desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico”, afirmou.
Confira a sonora completa do presidente da CNI, Ricardo Alban.
Ao lado de Alban, participaram da abertura o chair da Sustainable Business COP (SB COP), Ricardo Mussa; o high-level climate champion da COP30, Dan Ioschpe; e o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Hailton Madureira.
Mussa ressaltou que a Sustainable Business COP30 (SB COP), coalizão global lançada pela CNI para articular ações de sustentabilidade do setor privado e apoiar as negociações climáticas da ONU, demonstra como o setor privado pode contribuir com entregas concretas.
“Queremos falar de ação e resultados. As entregas da SB COP mostram que é possível alinhar o setor produtivo e o setor público em torno de soluções climáticas reais”, disse.
Ioschpe reforçou que a implementação das metas do Acordo de Paris depende da atuação conjunta de governos e empresas: “Estamos num momento em que a agenda de ação climática tem papel tão relevante quanto a negociação. Temos tecnologias, soluções e engajamento — e a SB COP é um exemplo dessa cooperação prática”.
Representando o governo federal, Madureira destacou o papel das cidades na adaptação às mudanças do clima. “O Ministério das Cidades está estruturando políticas e fundos voltados à sustentabilidade urbana. Não haverá justiça climática sem justiça urbana”, afirmou.
Ambição para o futuro
A maturidade do setor privado para assumir essa posição é um ponto-chave, como detalha o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, ao ressaltar o histórico de avanços e a ambição para o futuro. “Na última década, as empresas e instituições brasileiras avançaram no desenvolvimento de soluções para a descarbonização da economia e o uso sustentável dos recursos da nossa bioeconomia. A COP30 em Belém nos permitirá dar um novo salto, expandir parcerias e converter esses avanços em resultados concretos para o país e para o planeta.”
Principais propostas da indústria para a COP30: Financiamento climático como pilar central
A expectativa em torno da COP30 recai sobre o Roadmap Baku-Belém, plano de ação que detalhará como mobilizar a Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG), estimada em US$ 1,3 trilhão anuais até 2035, para financiar ações climáticas.
- A CNI considera o roteiro essencial para destravar recursos e propõe medidas que facilitem o acesso ao capital, como a simplificação de processos em bancos multilaterais e a superação de restrições associadas ao endividamento e ao espaço fiscal limitado dos países em desenvolvimento.
- O setor alerta que o déficit de financiamento apenas para adaptação nos países em desenvolvimento pode chegar a US$ 359 bilhões por ano. Além disso, a CNI recomenda que o roadmap traga incentivos ao financiamento de projetos de alta integridade ambiental aptos a gerar créditos de carbono alinhados às regras do Artigo 6.
Adaptação com indicadores flexíveis
A definição de indicadores para a Meta Global de Adaptação será um dos temas centrais das negociações. A CNI defende que os 100 indicadores apresentados sejam flexíveis, respeitando as capacidades de cada país, mas também mensuráveis, garantindo transparência. A inclusão de indicadores financeiros confiáveis é essencial para assegurar a responsabilização dos países pelas metas assumidas.
A indústria sugere que as metas sejam implementadas de forma gradual, com um período de teste, para assegurar que as políticas e ações de adaptação gerem resultados efetivos e atraiam financiamento com menores custos.
Vale frisar que os indicadores precisam ser úteis para orientar os Planos Nacionais de Adaptação dos países, e maximizar políticas e ações de adaptação em todos os setores. Neste sentido, os indicadores devem apoiar na concepção de projetos que possam ser financiados com recursos mais atrativos.
Mercado de carbono: oportunidade estratégica
A CNI vê nos mecanismos de mercado de carbono, previstos no Artigo 6 do Acordo de Paris, uma das maiores oportunidades para o Brasil. O país tem potencial para produzir créditos de carbono de alta qualidade, capazes de atrair novos investimentos.
Considerando a relevância do mercado de carbono para o cumprimento das metas climáticas globais e o expressivo potencial do Brasil para a geração de créditos de carbono de alta integridade, torna-se fundamental que o país acompanhe ativamente essas discussões e se posicione de forma estratégica.
Nacionalmente, a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) terá papel decisivo na integração entre o mercado regulado nacional e os mecanismos do Acordo de Paris. Essa integração é crucial para assegurar a comercialização de créditos com elevada integridade ambiental, fortalecendo a posição do Brasil no mercado internacional de carbono e contribuindo de maneira concreta para a implementação dos compromissos climáticos globais.
Transição justa sem barreiras comerciais
Adiada para a COP30 em Belém, a discussão sobre Transição Justa precisa garantir que cada país tenha autonomia para definir o próprio caminho rumo a uma economia de baixo carbono, conforme suas realidades e capacidades.
A CNI ressalta que o tema não deve ser usado para legitimar medidas comerciais unilaterais com justificativas climáticas, a exemplo do CBAM (Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono) – instrumento da União Europeia para aplicar preço ao carbono emitido na produção de bens importados pelo bloco –, que podem se transformar em novas e injustas barreiras ao comércio internacional.
Ação climática e protagonismo empresarial
A realização da COP30 no Brasil é vista pela CNI como um marco para acelerar a implementação da agenda climática global. O superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, reforça a relevância do momento para impulsionar as ações. “Com a COP30 em nosso país, temos a oportunidade única de transformar o diálogo global em investimentos e competitividade para o Brasil.”
No processo liderado pela presidência da conferência e pelos Campeões de Alto Nível do Clima, a Agenda Global de Ação Climática (GCAA) busca ampliar a colaboração entre governos, empresas e sociedade civil.
Nesse contexto, a SB COP simboliza o engajamento do setor privado na construção de soluções para a descarbonização e o desenvolvimento sustentável. Atualmente, a iniciativa reúne quase 40 milhões de empresas de mais de 60 países.
“O grande diferencial da SB COP é a escala. Nunca houve uma mobilização tão ampla do setor privado em torno da agenda climática. Em um cenário internacional marcado por instabilidade geopolítica, é ainda mais urgente que as empresas se unam. Esse esforço coletivo é o que pode transformar soluções locais em impacto global”, aponta, Ricardo Mussa.
Cases de sucesso
A SB COP abriu uma chamada pública e recebeu mais de 670 propostas de sucesso do setor privado de todo o mundo. Após um processo de avaliação conduzido por oito grupos de trabalho (GTs) temáticos, foram selecionadas 48 iniciativas de maior destaque. A América do Sul teve protagonismo: quase 60% dos cases enviados vieram de empresas do continente.
Os cases foram anunciados no evento desta quarta (15). Já a premiação vai ocorrer durante a COP30, em Belém.
Os projetos selecionados vêm de pelo menos 14 países, formando uma rede diversa que inclui Zâmbia, Paquistão, Colômbia e Índia. O Brasil se destaca nesse panorama de soluções verdes, com 19 cases, mostrando que o país não é apenas sede da COP30, mas também uma fonte fértil de respostas para os desafios climáticos globais. Dos 48 projetos, 38 têm uma nacionalidade específica, enquanto os demais 10 reúnem iniciativas com impacto em diferentes países.
Mais informações sobre os 48 cases selecionados podem ser conferidas em https://sbcop30.com/. A seleção completa mostra a diversidade das soluções. Entre os exemplos estão a produção sustentável de ácido hialurônico para produtos de beleza, com pegada ambiental até dez vezes menor; a restauração de 350 mil hectares de manguezais, unindo mitigação e adaptação climática; e a reciclagem de 5,5 bilhões de garrafas PET por ano.
Agenda de prioridades
Além da seleção de cases, a SB COP entregou em setembro ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, um conjunto de 23 prioridades para acelerar a descarbonização da economia e fortalecer o papel do setor privado nas negociações climáticas globais. As propostas incluem a meta de triplicar a capacidade instalada de energia renovável até 2030 e a defesa de um alinhamento dos mercados globais de carbono.
Patrocinadores
A participação da CNI na COP30 conta com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI). Institucionalmente, a iniciativa é apoiada pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), First Abu Dhabi Bank (FAB), Sistema FIEPA, Instituto Amazônia+21 e U.S. Chamber of Commerce. A realização das atividades da indústria na COP30 recebe o patrocínio de Schneider Electric, JBS, Anfavea, CPFL Energia, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Latam Airlines, MBRF, Pepsico, Suzano, Syngenta, Acelen Renováveis, Aegea, Albras Alumínio Brasileiro S.A., Ambev, Braskem, Hydro, Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Itaúsa e Vale.
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