Na Universidade de Michigan, Estados Unidos, equipe coordenada por pesquisador brasileiro tem como objeto de estudo a imagem tridimensional do cérebro de um paciente obtida em meio a uma crise de enxaqueca

O brasileiro Alexandre DaSilva, diretor de um laboratório da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que estuda a enxaqueca, em frente à imagem em 3D do cérebro de um paciente (Universidade de Michigan)
Sob a coordenação de um pesquisador brasileiro, uma equipe da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, estuda pela primeira vez a enxaqueca com o uso de imagens 3D do cérebro. Projetada a partir de fotos tiradas no exato momento em que acontece uma crise de enxaqueca, as imagens “flutuam” no meio de uma sala. Com óculos especiais e um controle (similar ao de um videogame), os pesquisadores conseguem enxergar o órgão em todos os ângulos, além de poderem “cortar” a imagem e observar, assim, o interior do cérebro. Os resultados iniciais do estudo já fornecem novas pistas sobre como o cérebro tenta combater a enxaqueca — informações que são úteis para aumentar a eficácia de tratamentos e até desenvolver novas abordagens terapêuticas contra o problema.
“Conseguimos interagir com uma imagem de mais de um metro em plena crise de enxaqueca, o que não pode ser feito em uma imagem 2D. Essa é a primeira vez em que isso é feito no âmbito da pesquisa em enxaqueca”, disse ao site de VEJA Alexandre DaSilva, diretor do H.O.P.E, o Laboratório de Dores de Cabeça e Orofaciais da Universidade de Michigan, onde a pesquisa vem sendo feita. “Olhamos para dados reais do paciente e fazemos uma análise muito mais precisa. Isso é útil tanto para novas pesquisas quanto para complementar a formação de futuros médicos que estudam na universidade.”
Dor tridimensional
APP CONTRA ENXAQUECA
Em 2012, a equipe de Alexandre DaSilva, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, desenvolveu um aplicativo de smatrphones para ajudar pessoas que sofrem com crises de enxaqueca. A ideia é facilitar a comunicação entre o paciente e o médico, já que o aplicativo permite que o indivíduo com enxaquecas mostre, em uma imagem tridimensional de um rosto, os pontos onde sente dor e onde a sensação é mais intensa. O paciente também pode descrever outros sintomas: como está seu sono, seu humor e sua concentração. Segundo DaSilva, a versão em português do aplicativo deve estar disponível para download em aproximadamente três semanas. O grupo de pesquisadores está trabalhando em uma atualização do aplicativo.
Descobertas — Os resultados do primeiro estudo feito a partir dessa imagem tridimensional serão publicados nos próximos meses no periódico Journal of Visualized Experiments (JoVE). “Esse primeiro teste foi feito a partir da análise do cérebro de apenas um paciente. Já conseguimos, por exemplo, identificar com mais precisão em quais regiões do cérebro há a liberação de opioides endógenos [analgésicos produzidos pelo nosso próprio organismo] durante uma crise de enxaqueca. É o verdadeiro ataque do cérebro contra a cefaleia”, diz DaSilva.
Segundo o pesquisador, uma descoberta como esta é importante, pois permite que os pesquisadores identifiquem os melhores alvos para tratamentos contra a enxaqueca. Saber qual área específica do cérebro é responsável por lutar contra a dor de cabeça, por exemplo, pode aumentar a eficácia de abordagens terapêuticas, como a estimulação cerebral profunda, que estimula a atividade de determinadas áreas do cérebro por meio de eletrodos que emitem correntes elétricas.
Há um ano, a equipe de DaSilva publicou um estudo mostrando que pacientes com enxaqueca frequente, após serem tratados com estimulação cerebral durante quatro semanas seguidas, apresentaram uma redução significativa nos sintomas. Se a estimulação elétrica for feita nas áreas descobertas pelo novo estudo, é possível que a produção de opioides no cérebro aumente, elevando, assim, a probabilidade de o órgão conseguir combater a dor.
Após concluírem esse primeiro estudo, feito com um caso único — ou seja, a partir da imagem do cérebro de apenas um paciente —, DaSilva e sua equipe já começaram a desenvolver uma nova pesquisa a partir da mesma tecnologia. Dessa vez, no entanto, a ideia é trabalhar com um número maior de pessoas. “Cada vez mais, os conhecimentos obtidos por meio dessa tecnologia nos ajudarão a definir novas estratégias para pesquisar, tratar e prevenir a enxaqueca”, afirma DaSilva.
Fonte: Veja