28 de março de 2024

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Aumento de publicidade de cerveja na Copa pode estimular consumo entre crianças

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O aumento do número de propagandas de cervejas durante o período da Copa do Mundo pode levar ao crescimento do consumo de álcool entre crianças e adolescentes, alerta o Instituto Alana.

“Com a Copa, a publicidade de cerveja aumenta muito e a cerveja, para fim de publicidade, não é considerada bebida alcoólica, ela pode ser anunciada a qualquer hora do dia na televisão. Os jogos  que passarem durante o dia vão ter, provavelmente, muita publicidade de cerveja e, dependendo de como essas publicidades são feitas, elas atingem diretamente o público infantil”, destaca a diretora do Instituto Alana, Isabella Henriques.

A psicóloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ilana Pinsky reforça o alerta do instituto e destaca que é volumosa a quantidade de pesquisas que mostram a relação entre a maior exposição à publicidade de álcool e o consequente crescimento do consumo da substância. “Essa ligação é extremamente conhecida e, para as crianças, é mais importante. Elas começam a reconhecer desde muito cedo as marcas ligadas a bebidas alcoólicas, principalmente, as das cervejarias, que são as empresas que se ligam mais em patrocínio de eventos e principalmente de futebol”, diz.

A psicóloga relata, por exemplo, que o filho dela, de 10 anos, conhece todas as marcas de cerveja. “E eu não bebo e na minha casa não existe bebida alcoólica. Isso acontece por meio da televisão e das redes sociais, principalmente, e por conta do futebol. E ocorre com muita gente dessa mesma idade”, acrescenta.

A restrição à publicidade de bebidas no Brasil é feita por meio da Lei 9.294/96 e vale para os produtos com teor alcoólico acima de 13 graus Gay-Lussac (ºGL), a exemplo do uísque e da cachaça. A cerveja, porém, não se enquadra nessa faixa.

O Ministério Público do Estado de São Paulo colhe assinaturas, desde 2012, para propor, por meio de projeto de lei de iniciativa popular, alteração no limite estabelecido pela legislação. O intuito é que o limite passe a ser 0,5 ºGL. De acordo com a Constituição Federal, a apresentação de projeto de lei de iniciativa popular deve ser subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos cinco estados, entre outros requisitos.

A preocupação do Instituto Alana é que, como existe grande audiência infantil nos jogos, haja direcionamento da publicidade da bebida aos menores. Entre os patrocinadores oficiais da Copa do Mundo no Brasil está uma marca de cerveja. “Você colocar, como já aconteceu, os jogadores da seleção nacional, que são os grandes ídolos da criançada, o técnico da seleção, fazendo comercial para uma marca de cerveja e chamando as crianças a serem ‘guerreiras’, isso é muito sério”, ressalta a diretora.

Além da televisão, a exposição de bebidas alcoólicas nas redes sociais também têm preocupado pesquisadores. “Quando você faz uma publicidade por meio da televisão, você é apenas um espectador. Quando isso é feito por meio de uma rede social, você pode participar dela, postando fotos, opiniões”, explica.

De acordo com o 6º Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada, feito nas 27 capitais brasileiras e divulgado no final de 2013, a idade média do primeiro contato com as bebidas alcoólicas é 13 anos.

A pesquisa ouviu 50.890 estudantes. Cerca de 15,4% dos que tinham entre 10 e 12 anos declararam que tinham consumido álcool no ano da pesquisa. A proporção sobe para 43,6% entre os adolescentes de 13 e 15 anos, e para 65,3% entre 16 e 18 anos. De todo o universo pesquisado, 60,5% dos estudantes declararam já ter consumido álcool.

“Essa publicidade gera como consequência o aumento do consumo de cerveja por crianças cada vez mais cedo. Hoje, no Brasil, a idade que se começa a ter problema com álcool é 11 anos. E a nossa preocupação é o impacto que a publicidade de cerveja terá durante a Copa”, ressalta Isabella.

Agência Brasil procurou a Ambev, a quarta maior cervejaria do mundo, mas a empresa não quis conceder entrevista sobre o assunto.

 

Agência Brasil

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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