Por Dennis Moraes
No Brasil, milhares de crianças e adolescentes aguardam a chance de ter um lar, enquanto inúmeros casais e pessoas solteiras sonham em formar uma família. Nesse encontro de histórias e expectativas, a adoção surge não apenas como um gesto de amor, mas como uma decisão capaz de garantir equilíbrio emocional, saúde mental e longevidade social e afetiva.
Segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), cerca de 4.940 crianças estão aptas à adoção, enquanto mais de 33 mil pretendentes aguardam serem habilitados. Esse contraste evidencia o descompasso entre oferta e demanda afetiva.
Em particular, a adoção por casais homoafetivos cresce de forma marcante: triplicou em quatro anos, de 145 em 2019 para 416 no ano passado, sendo responsável por 6,4% das adoções.
Ainda assim, muitos pretendentes impõem preferências restritivas, limitando as chances de adoção de crianças mais velhas, negras ou com irmãos — justamente perfis mais comuns nos abrigos.
Embora muitas vezes envolta em mitos e preconceitos, a adoção vai além da ideia de “substituir” a impossibilidade de filhos biológicos. Ela representa uma forma legítima de parentalidade, que permite a construção de laços afetivos sólidos, a transmissão de valores e a formação de gerações mais conscientes.
A psicologia aponta que o vínculo familiar é um dos pilares mais importantes para a saúde mental. Casais que enfrentam dificuldades de fertilidade ou indivíduos que optam pela adoção encontram nela uma forma de ressignificar o sonho da parentalidade. Esse processo oferece não apenas acolhimento à criança, mas também um sentido de propósito, pertencimento e continuidade da vida aos adotantes.
Pesquisas indicam que famílias que constroem sua história por meio da adoção desenvolvem níveis elevados de resiliência e empatia, justamente pela consciência de que o vínculo não é biológico, mas sim escolhido, reforçando valores de cuidado e responsabilidade.
Um dos grandes entraves culturais da adoção no Brasil é a ideia de que o processo é excessivamente demorado e inacessível. Ainda que a burocracia exista, especialmente para garantir os direitos das crianças, os avanços recentes têm encurtado etapas e ampliado a transparência.
Hoje, por meio do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), é possível acompanhar o andamento dos processos de forma digital, aumentando a agilidade e a confiança no sistema. Além disso, em muitas cidades brasileiras, existem grupos de apoio à adoção, que orientam famílias interessadas, promovem rodas de conversa e desmistificam preconceitos.
Apesar dos avanços, o preconceito ainda é uma barreira. Muitos evitam adotar por medo de vínculos anteriores da criança, por questões de idade ou até pela ideia de que apenas bebês “são ideais” para adoção. A realidade, porém, mostra que grande parte das crianças disponíveis estão em faixas etárias mais avançadas, muitas vezes com irmãos que também esperam por um lar.
A resistência social em relação à adoção de crianças negras, adolescentes ou grupos de irmãos ainda é evidente. Entretanto, especialistas defendem que quanto maior a abertura do perfil desejado pelos adotantes, mais rápido será o encontro com a criança que precisa de uma família.
Famílias que adotam constroem redes de apoio mais fortes, desenvolvem maior consciência social e investem em vínculos emocionais duradouros, o que reflete na saúde mental e no equilíbrio emocional de todos os envolvidos.
Além disso, a sociedade também se beneficia: reduzir o tempo de crianças em abrigos e oferecer a elas um lar afetuoso é investir em cidadania, em equilíbrio social e em um futuro mais justo. Adoção, portanto, não é apenas uma escolha individual, mas um ato coletivo que impacta o desenvolvimento humano e social do país.
Muitos adultos enfrentam a solidão ao longo da vida, seja pela ausência de filhos, seja pelo afastamento familiar. A adoção pode ser uma oportunidade de transformar essa solidão em pertencimento, criando novos vínculos intergeracionais que favorecem tanto os adotantes quanto os adotados. O resultado é uma vida mais plena, com maiores perspectivas de longevidade emocional e equilíbrio afetivo.
Em diversas cidades, grupos de apoio à adoção oferecem acolhimento a famílias em processo de habilitação, trocas de experiências e até acompanhamento pós-adoção. Essas redes são fundamentais para derrubar preconceitos, esclarecer dúvidas jurídicas e promover uma cultura de acolhimento.
O desafio da adoção no Brasil não está apenas na burocracia, mas também na mudança de mentalidade. É preciso olhar para a adoção como uma forma legítima de construir família, de promover longevidade emocional e de investir em vínculos que transcendem o biológico.
No fim, adotar não é apenas oferecer um lar para quem precisa. É também permitir-se viver uma experiência de amor transformador, que garante equilíbrio, saúde emocional e sustentabilidade afetiva para gerações inteiras.
Dennis Moraes é Comendador outorgado pela Câmara Brasileira de Cultura, Jornalista, Feirante e Diretor de Jornalismo do SB24Horas. Acesse: dennismoraes.com.br




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