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A matemática da minoria que elege vereadores em Santa Bárbara d’Oeste

Foto: Dennis Moraes

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Por Dennis Moraes

Em toda eleição municipal, há uma ilusão coletiva de que o vereador eleito é, de fato, a voz da maioria. A realidade, no entanto, é bem diferente. Em cidades como Santa Bárbara d’Oeste, com mais de 200 mil habitantes e cerca de 140 mil votos válidos, a conta que coloca alguém na cadeira do Legislativo não passa nem perto da maioria.

Um candidato a vereador, dependendo do partido e do quociente eleitoral, precisa de algo entre 700 a 1.000 votos para garantir uma vaga. Em números crus, isso representa menos de 1% da população total da cidade. Ou seja: o “representante do povo” é, na prática, o representante de uma pequena fatia da sociedade que acreditou no seu discurso, muitas vezes restrito a um nicho, um bairro, um grupo específico ou uma rede de favores pessoais.

Essa lógica distorcida abre espaço para uma política imediatista, baseada mais no marketing do que no compromisso com a fiscalização e a criação de projetos realmente estruturantes. É por isso que, depois de eleitos, alguns parlamentares aparecem com ideias que beiram o absurdo — como projetos que tentam resolver problemas inexistentes, ou que usam a máquina pública para situações pontuais e populistas. As recentes sugestões de ambulância 24 horas aos finais de semana na praça central, colocar festas no calendário municipal e dia da família, são exemplos clássicos: soa bonito, rende manchete, mas não toca nas feridas abertas do município, como saúde, mobilidade urbana precária, segurança e transparência administrativa.

O eleitor precisa compreender que o sistema proporcional favorece esse cenário. Quanto menor for o esforço exigido para se eleger, maior a tentação de recorrer a medidas de impacto imediato, em vez de dedicar tempo e energia para elaborar projetos consistentes, fiscalizar contratos milionários da prefeitura ou propor soluções de longo prazo. Afinal, conquistar 700 votos é mais fácil oferecendo paliativos e discursos agradáveis do que encarar de frente os problemas estruturais de uma cidade inteira.

Não é à toa que vemos vereadores virando especialistas em “buzina de avião”, em propor moções de aplauso sem critério, ou em discutir medidas superficiais que não mudam a vida da maioria. O resultado é um Legislativo que, em vez de ser o guardião da democracia local, muitas vezes se transforma em palco de vaidades e fábrica de projetos irrelevantes.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a forma como elegemos nossos vereadores, mas também a consciência de quem vota. O eleitor barbarense precisa entender o peso do seu voto e cobrar que aqueles que foram eleitos por essa minoria tenham a grandeza de legislar para a maioria. Caso contrário, seguiremos reféns de projetos pequenos, em uma cidade que precisa pensar grande.

Dennis Moraes é jornalista, Comendador pela Câmara Brasileira de Cultura e diretor do Grupo Dennis Moraes de Comunicação.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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