E mais: metade dos que têm outras ocupações sentem impacto negativo no rendimento e na saúde física e mental decorrente do excesso laboral; delegados aposentados também continuam trabalhando, como Ruy Ferraz Fontes, executado, no litoral paulista, há duas semanas
Instituição com melhor avaliação nacional, com 60% de confiança dos brasileiros, segundo pesquisa Atlas/Bloomberg, a Polícia Civil enfrenta, no estado de São Paulo, realidade desafiadora. Exemplo disso é que, seis em cada dez delegados precisam de renda complementar e, por isso, têm trabalhos extras. É o que revela recente levantamento do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp).
A informação consta no estudo “Raio-X da Carreira de Delegado de Polícia”, encomendado pelo Sindicato para o Instituto Datapim. Foram entrevistados 711 delegados, entre ativos e inativos, em todo o estado paulista.

Entre os aposentados, segundo a pesquisa, 42% continuam trabalhando – muitas vezes, expostos a riscos. É o caso do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, executado no último dia 15, na Baixada Santista, numa emboscada cinematográfica.
Pioneiro no combate ao crime organizado no estado, Fontes era jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) desde 2006. Há anos, estava aposentado da Polícia Civil, mas continuava trabalhando. A última ocupação foi a de secretário municipal de Administração da Prefeitura de Praia Grande-SP, onde ocorreu o crime.
O estudo do Sindpesp ainda indica que, na ativa, delegados precisam lidar com a exaustão de uma segunda jornada, aliada à sobrecarga de plantões desfalcados de pessoal. Para se ter ideia, hoje, o déficit é de mais de 15 mil policiais – e não faltam apenas delegados no expediente. Os cargos vagos são de investigadores, escrivães, perito criminal, papiloscopista e agente – só para citar alguns.
A situação dos delegados de São Paulo – o 4º pior salário entre os 27 estados do Brasil – está cada vez mais insustentável, como alerta a presidente do Sindicato, delegada Jacqueline Valadares:
“Infelizmente, as carreiras da Polícia Civil bandeirante são pouco atrativas e se observa, em paralelo, grande evasão para Polícias de outros estados, que pagam melhor, e até para outros órgãos públicos e ocupações. Esta é a realidade de uma classe que sofre, há muito tempo, com a falta de uma carreira estruturada e com lamentável e gritante desvalorização remuneratória”, ressalta.
Promessas de Campanha
A entidade sindical vem cobrando do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), promessas da época da campanha de 2022, de valorização e de modernização da instituição, que possam vir, inclusive, incorporadas à Nova Lei Orgânica da Polícia Civil – em fase de elaboração.
A expectativa é que distorções salariais sejam corrigidas, além de haver garantia de pagamento de direitos básicos (hora extra, adicional por trabalho noturno e auxílio-saúde, só para citar algumas possibilidades), segundo Jacqueline.
A apresentação do texto-final da Nova Lei Orgânica está atrasada. O estudo, que teve início em janeiro deste ano, deveria chegar ao fim em maio, mas teve sua conclusão adiada para o início deste mês. Embora vencido o prazo, nada foi compartilhado com a Polícia Civil até o momento.
Confiança da população
Pesquisa do Instituto Atlas/Bloomberg, divulgada em 14/8, revelou que a Polícia Civil é a instituição mais confiável para 60% dos brasileiros, à frente da Polícia Militar (56%), da Igreja Católica (53%) e da Polícia Federal (49%).
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