Mudanças no estilo de vida, fatores ambientais e atrasos em diagnósticos são apontados como principais causas da crescente entre pessoas com menos de 50 anos
Um estudo publicado em 2023 no BMJ Oncology, com base em dados do Global Burden of Disease, aponta que os diagnósticos de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentaram 79% entre 1990 e 2019, enquanto as mortes associadas cresceram 27,7% no mesmo período.
Em 2019, estimou-se que 3,26 milhões de jovens adultos foram diagnosticados com câncer – um salto em relação a 1,82 milhão de 29 anos antes. Os tipos de câncer mais prevalentes nesta faixa etária incluem mama, intestino (cólon e reto), pulmão, estômago, além de tumores de próstata e nasofaríngeo.
Embora existam menos estudos de longo prazo no Brasil, dados clínicos locais indicam uma tendência semelhante. O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) observa que a proporção de casos de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos aumentou de 8% em 2009 para 22% em 2020.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica alerta os médicos para não desconsiderarem sinais de câncer em pacientes jovens, uma vez que sintomas como fadiga, alterações intestinais ou inchaço podem ser descartados, por serem associados a quadros benignos, retardando diagnósticos.
Fatores apontados pelas pesquisas
Segundo estudos do BMJ e publicações como a da Lancet Public Health, os principais fatores de risco associados ao aumento do câncer em adultos jovens são dietas ricas em carne vermelha, sal e alimentos ultraprocessados, consumo de álcool, tabagismo, obesidade, sedentarismo e altos níveis de glicose no sangue.
As pesquisas exploram o impacto de microplásticos, aditivos alimentares e antibióticos no microbioma intestinal, além da exposição à luz artificial e ao trabalho noturno, como possíveis fatores que aumentam o risco de tumores precoces.
Mesmo que as mutações hereditárias como BRCA e síndromes como Lynch tenham papel relevante em alguns casos, mais de 80% dos tumores diagnosticados em jovens não têm origem genética familiar. Exposições na infância, adolescência e até mesmo no útero, como obesidade materna ou alterações epigenéticas, podem ter efeitos a longo prazo.
Agressividade e desafios nos diagnósticos
Cânceres diagnosticados em pacientes mais jovens tendem a ser mais agressivos e detectados em estágios mais avançados. No caso do câncer de mama, por exemplo, subtipos como o triplo-negativo são mais comuns entre mulheres jovens e apresentam maior risco de recorrência e propagação.
A densidade mamária mais elevada e a ausência de exames de rotina como mamografia nesta faixa etária contribuem para atrasos no diagnóstico. Em tumores intestinais, o tratamento tardio reduz muito as chances de cura, especialmente quando já há metástase.
Medidas de prevenção e detecção precoce
Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, carne vermelha, álcool e açúcar, manter alimentação rica em frutas, vegetais e fibras, praticar atividade física regularmente e controlar o peso corporal são estratégias que podem prevenir cerca de 30% ou mais dos casos de câncer precoces.
É essencial que pessoas que notem sintomas persistentes ou tenham histórico familiar consultem um profissional. Isso inclui dor abdominal, alterações intestinais, nódulos, sangramentos ou fadiga incomum. O médico pode orientar sobre exames adequados, mesmo em idades mais jovens, como colonoscopia a partir dos 45 anos, em vez dos 50 tradicionais, e acompanhamento específico para grupos de risco.
Mesmo diante de riscos genéticos, uma avaliação médica é indispensável para interpretar corretamente os testes e definir medidas preventivas. Promoções de programas de conscientização – similares às campanhas Outubro Rosa e outras iniciativas de saúde pública – contribuem para elevar o conhecimento entre jovens sobre os sinais precoces de câncer de mama, colo do útero e intestino.
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