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2026: o ano em que a IA deixará de ser promessa

Divulgação/Schneider

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por Luis Cuevas

Os últimos anos foram marcados por rupturas profundas causadas pelo avanço da inteligência artificial (IA). Mas, diferentemente do que muitos imaginam, essa fase foi apenas o aquecimento para o que veremos em 2026 – momento em que a IA deixará de ser um diferencial tecnológico para se transformar na espinha dorsal de praticamente toda a infraestrutura digital do planeta. 

Desde que o ChatGPT entrou na pauta global, no final de 2022, empresas de todos os portes e setores correram para entender como integrar a IA aos seus processos. Agora, a corrida muda de nível, uma vez que saímos do encantamento com grandes modelos para um cenário em que a inferência – capacidade de gerar inteligência aplicável em tempo real – passa a definir competitividade, eficiência e até a sobrevivência dos negócios.

Hoje, 78% das organizações já utilizam a IA em ao menos uma área do negócio, e os impactos são visíveis em manufatura, saúde, finanças e operações críticas. O que ficou evidente é que a IA está remodelando funções inteiras: fábricas aprimoram previsões de demanda com ganhos expressivos de precisão, hospitais automatizam fluxos e antecipam riscos, e instituições financeiras expandem sua capacidade de prevenir fraudes e otimizar pagamentos. Nos data centers, soluções inteligentes já otimizam o uso da energia, evitam superaquecimentos e integram fontes renováveis com mais eficiência. A IA, antes acessória, configura-se como o próprio modo de operar.

Nesse contexto, ganha força o conceito de AI Factories – data centers projetados para gerar inteligência além do armazenamento de dados. Esses centros treinam modelos, refinam informações e executam inferências que alimentam decisões críticas, automações e produtos digitais de alto valor agregado. Os workloads associados à essa nova realidade são intensos e variados. Uma única instalação pode operar desde chatbots compactados consumindo poucos quilowatts até agentes autônomos que exigem densidades superiores a 100 kW por rack.

Até 2030, essa diversidade vai moldar a arquitetura de novas construções e dividir o mercado entre ambientes voltados à computação preditiva leve, workloads híbridos e clusters de treinamento em larga escala. Para sustentar esse ecossistema uma nova geração de hardware – GPUs, CPUs e plataformas integradas – deverá elevar os data centers a patamares inéditos de densidade e capacidade computacional.

Do mesmo modo, a automação vive seu ponto de inflexão. Drones autônomos começam a ocupar espaço em operações de logística, segurança e resposta a emergências, enquanto robôs assumem tarefas críticas nos data centers – do monitoramento à manutenção de componentes e otimização da refrigeração líquida. Esse progresso silencioso só é possível porque as AI Factories oferecem a capacidade de processamento e a rede necessárias para processar grandes volumes de dados em tempo real – especialmente vídeo de alta definição, a “matéria-prima” dessa nova onda de automação.

Ao mesmo tempo, os digital twins iniciam desempenhar um papel central no planejamento e na operação das infraestruturas. A maturidade das plataformas de simulação, somada à evolução computacional, permite que operadores projetem, testem e validem sistemas complexos em ambientes virtuais antes de implementá-los no mundo físico. Redes elétricas, sistemas de refrigeração, fluxos logísticos e até o comportamento térmico de um data center podem ser avaliados com exatidão, reduzindo riscos e agilizando a tomada de decisões.

A escalada da demanda por IA também traz consequências diretas para a infraestrutura física. Com densidades que chegarão a 240 kW por rack em 2026, podendo atingir 1 MW até o fim da década, a refrigeração tradicional não será mais suficiente. A refrigeração líquida, por muitos anos considerada uma solução de nicho, inevitavelmente se tornará padrão e essa mudança vai anteceder um movimento igualmente importante: a modernização das instalações existentes. 

Nem todas as companhias terão o capital ou a necessidade de construir data centers do zero, como fazem os hyperscalers. Para muitas delas, retrofits em estruturas brownfield serão a estratégia mais viável, com racks maiores, PDUs mais robustas e trocadores de calor específicos para cargas aceleradas, propiciando que mesmo organizações menores se beneficiem da revolução da IA.

Não há como ignorar o peso da sustentabilidade nessa equação. A crescente demanda energética das infraestruturas de IA reforça a urgência por diversificação de fontes, com o gás natural associado à captura de carbono, HVO, energia solar, eólica, geotérmica e baterias. Hoje, as renováveis já representam 27% do consumo elétrico dos data centers, e sua geração global deve crescer 22% ao ano até 2030, respondendo por quase metade da expansão da demanda. Energia e IA, daqui em diante, serão debates inseparáveis.

Tudo, então, converge para um ponto: 2026 será o ano em que a IA ultrapassa o estágio de força disruptiva para ser um elemento estrutural da economia digital. Mais do que um suporte tecnológico, os data centers constituirão ambientes que viabilizam inteligência, automação e competitividade. Para acompanhar esse ritmo, operadores precisarão de agilidade, resiliência, capacidades técnicas e parcerias globais. Em um cenário marcado por tensões geopolíticas e inovações aceleradas, a habilidade de adaptar-se será tão importante quanto investir. As empresas que entenderem essa virada estarão entre as protagonistas da próxima década.

Luis Cuevas é diretor de Secure Power e Negócios de Data Centers da Schneider Electric no Brasil

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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