O Sistema Único de Saúde tem entre seus princípios a equidade – a capacidade de reconhecer as necessidades de grupos específicos e atuar para reduzir o impacto das diferenças. Para informar e conscientizar a sociedade sobre a importância de garantir que travestis, mulheres transexuais e homens trans tenham atendimento integral, humanizado e livre de discriminação, o Ministério da Saúde lançou ontem, 27 de janeiro, a campanha Saúde Trans.
A estudante de pedagogia Tatiana Araújo é travesti e ressalta a importância da campanha para o dia a dia do grupo. “A saúde é a área governamental que tem mais habilidade de promover parcerias com o movimento social organizado. Essa campanha simboliza que precisamos de visibilidade. Muitos acham que as travestis devem estar em um espaço segregado da sociedade, apenas para o exercício sexual à noite. Isso está sendo mudado com campanhas como essa, que tentam incluir a nossa população”, destaca.
O uso do nome social durante o atendimento no Sistema Único de Saúde é um avanço fundamental nesta luta. “Isso ajuda muito. O constrangimento de chegar no espaço onde a cultura deve ser de acolhimento e não ser acolhido é muito difícil. Isso afasta muito a pessoa do Sistema. Eu sou sergipana e já tive uma colega que passou mais de dois anos com gonorreia com vergonha de ir ao posto e ser chamada de João. Para ela foi mais fácil ficar doente por este tempo, do que ser constrangida no posto de saúde”, conta Tatiana.
A campanha Saúde Trans conta ainda com uma cartilha voltada para trabalhadores do SUS, incluindo não só os profissionais de saúde como também recepcionistas e responsáveis por marcar consultas, com informações sobre a atenção integral à saúde desta população. Com a distribuição de 200 mil exemplares, o material destaca o direito de todos à saúde com respeito e sem discriminação. Aborda também orientações aos profissionais no acolhimento à população trans – como, por exemplo, que travestis e mulheres transexuais têm indicação de realizar exames para prevenção de próstata e homens trans podem necessitar de atendimento ginecológico.
Também foi lançado o livro “Transexualidade e Travestilidade na Saúde”, que apresenta uma coletânea de artigos sobre o tema, organizados pelo Departamento de Apoio à Gestão Participativa (DAGEP/SGEP/MS) e editados pelo Ministério da Saúde. A publicação está disponível online neste link.
PROCESSO TRANSEXUALIZADOR – O SUS oferece acesso aos procedimentos do processo transexualizador. São realizadas cirurgias de redesignação sexual (mudança de sexo), mastectomia (retirada de mama), histerectomia (retirada de útero), plástica mamária reconstrutiva (incluindo próteses de silicone) e tireoplastia (extensão das pregas vocais para mudança da voz), além de terapia hormonal.
Desde a inclusão do processo transexualizador no SUS, em 2008, o número de procedimentos saltou mais de 3.000%, partindo de 101 para 3.157 em 2014. Os repasses do Ministério da Saúde para o custeio desses procedimentos cresceu 832,5% no período, chegando a R$ 154,8 mil. Desde 2008, foram 9.867 procedimentos realizados.
A realização do processo depende, inicialmente, de avaliação e acompanhamento ambulatorial com equipe multiprofissional, que inclui consulta com psicólogos, por exemplo. Para o (a) usuário (a) ter acesso aos procedimentos ambulatoriais é preciso ter, no mínimo, 18 anos. Para as cirurgias, somente a partir de 21 anos. Além disso, após o processo cirúrgico é realizado um ano de acompanhamento do paciente pelas equipes.
Fonte: Gabriela Rocha/ Blog da Saúde