28 de março de 2024

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Legião da Boa Vontade e a Ideologia do Bom Samaritano

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Uma bela e comovente lição do Cristo

Falando a uma simpática plateia, no ano de 1991, em Portugal, revelei-lhe que, ainda na minha meninice, a primeira notícia pela qual tive conhecimento da Bíblia Sagrada, em particular a Boa Nova de Jesus*1, veio por intermédio de meu saudoso pai, Bruno Simões de Paiva (1911-2000). Ele me falou sobre uma comovente história contada ao povo pelo Cristo de Deus: a Parábola do Bom Samaritano. E a leu para mim. A passagem se encontra no Evangelho, segundo Lucas, 10:25 a 37:

“E eis que se levantou certo doutor da lei, tentando Jesus, ao interrogá-Lo assim: Mestre, que farei para herdar a Vida Eterna? Jesus perguntou-lhe então: Que está escrito na lei? Como a interpretas? E o doutor da lei declarou-Lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo*2. Jesus, então, lhe respondeu: Disseste-o bem; faze isso e viverás. E o doutor da lei, contudo, querendo justificar-se a si mesmo, questionou-Lhe: Mas quem é, Jesus, o meu próximo? O Mestre replicou-lhe, contando-lhe uma parábola: Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, retiraram-se, deixando-o semimorto. Descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo um levita chegando àquele lugar, e, avistando o pobre homem, passou também de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, fitando-o, tomou-se de infinita compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre um animal de sua propriedade, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No outro dia, partindo, tirou dois denários [antiga moeda romana], deu-os ao dono da hospedaria e lhe disse: Cuida bem deste ferido, e tudo o que de mais gastares, eu te pagarei quando aqui voltar. Qual, pois, destes três — perguntou Jesus ao homem da lei — te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Ao que o doutor da lei lhe respondeu: Claramente o que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, então, calmamente Jesus: ‘Vai, pois, e faze da mesma forma’”.

Ao reler a Parábola, medito, profundamente tocado em minha Alma, sobre mais esta bela lição do Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, Aquele que se dispõe a socorrer a qualquer necessitado em suas agruras, e que me despertou para o valor da Solidariedade, e me fez disposto, de todo o coração, ainda adolescente, a participar dessa divina empreitada (Legião da Boa Vontade) sem jamais dela desertar. Afinal, aprendemos com Jesus a persistir até o fim: “Na vossa perseverança, salvareis as vossas almas” (Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 21:19).

Aliás, para os de Boa Vontade, ser obstinado nos Sagrados Preceitos do Senhor significa desenvolver-se além do chamado fim humano, porque a vida continua, pois os mortos não morrem! Nem os Irmãos ateus — entre os quais se encontram criaturas de esmerada generosidade — falecem, como descobrirão, pasmados, ao atravessar a fronteira entre as esferas material e espiritual.

Pois bem, aqui estou há mais de 62 anos de labuta nas lides das Instituições da Boa Vontade e intensamente feliz ao lado de vocês, por poder prestar serviço a esta Causa Sublime, cujo lema é, desde os seus primórdios, “por um Brasil melhor e por uma humanidade mais feliz”.

O que me sustenta é a pertinácia ensinada pelo Operário Divino em Sua Boa Nova de libertação: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Evangelho, segundo Mateus, 24:13).

Servir o Rabi da Galileia — isto é, vivenciar plenamente Seus Ideais Sublimes — não é sacrifício, é um privilégio, porque dota nossa existência de “Caminho, Verdade e Vida”.

Disse Jesus, o Excelso Condutor: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Evangelho, segundo João, 14:6).

Goethe

Sempre trago na mente uma séria advertência do filósofo Goethe (1749-1832), um gênio alemão que iluminou o mundo nos séculos 18 e 19. Escreveu o autor de Fausto: “Conhecer não é o bastante, precisamos aplicar. Desejar não é o suficiente, precisamos fazer”.

Mas sempre em Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento do Cristo — “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35) —, que é o Amor elevado à enésima potência.

A verdadeira forma de viver

Voltando à lição da Parábola, vemos no comportamento desse samaritano (representante de uma comunidade desprezada naquele tempo) a verdadeira forma de viver do cidadão solidário que há décadas aqui pregamos.

Esse homem caído na estrada, todo ferido, quase morto simboliza a própria sociedade. Visto que muitos passaram ao largo das multidões dos enfermos e combalidos, dos salteados e explorados ao longo dos séculos, a samaritana Legião da Boa Vontade se apresentou e está tratando as chagas, curando as doenças, mitigando a sede, alimentando os famintos, levantando os desvalidos… Isso é Política de Deus, a Política para o Espírito Eterno do ser humano — a vivência plena da Caridade Completa (Material e Espiritual). Quem não souber as Normas do Governo do Cristo, expressas em Seu Santo Evangelho-Apocalipse, não poderá governar coisa alguma. Aos Seus discípulos, Ele ordena: “Ide e pregai, dizendo: É chegado o Reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios, dai de graça o que de graça recebeis. Vesti os nus, alimentai os famintos, amparai as viúvas e os órfãos (Evangelho, segundo Mateus, 10:7 e 8; Epístola de Tiago, 1:27).

Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, é a cura de que a humanidade precisa.

A Parábola do Bom Samaritano evidencia que não basta unicamente instruir e educar. É imprescindível reeducar, com espírito ecumênico, universalista, isto é, sem ódios, para que se alcance a espiritualização da criatura, bem como exprimir a todos os seres espirituais e humanos a importância da compaixão, da solidariedade, da generosidade, do entendimento para que haja povos realmente cordiais. Daí pregarmos a globalização do Amor Fraterno.

O desafiante Voltaire (1694-1778) afirmou em Érphyle, ato II, cena 1:  “Os mortais são iguais. Não é o nascimento, mas apenas a virtude que estabelece a diferença entre eles”.

Qualidades comuns aos idealistas

Esses exemplos que lhes trago podem parecer românticos aos pragmatistas (naturalmente que me refiro aos sem-Fraternidade, pois existem os que têm a Alma cheia de sentimentos benévolos). Aliás, certa vez eu disse a um grupo de amigos o seguinte: Ser idealista no Bem, sim. Mas, por favor, com talento e pragmatismo. É preciso ter ideal e, sobretudo, ser capaz de realizá-lo, portanto, prático, para continuar merecendo as bênçãos de Deus.

O Brasil virá a tornar-se, num crescendo, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho-Apocalipse Ecumênicos, até que essas qualidades passem a ser comuns entre seus habitantes. Então, verdadeiramente transformar-se-á no celeiro do planeta. Não apenas do alimento que se ceifa do chão, mas daquele que se colhe da Alma.

Ao aludir à Boa Nova de Jesus, quero deixar claro que não a compreendo como se fora atributo de uma parte privilegiada da sociedade. A linguagem espiritual, ética, moral que Ele transmite pertence a todos os corações que batalham por um mundo mais cordato.

E, em todas as eras, muitas figuras exponenciais da História tiveram como tema de suas reflexões os mais admiráveis sentimentos que o ser humano pode expressar. Numa época de tanto hedonismo, é bom nos recordarmos de alguns deles:

“Deus criou o ser humano de tal forma que ele só pode ser feliz praticando o Bem”. Alziro Zarur (1914-1979)

“Se os homens puserem o dever em primeiro lugar e o êxito depois, não melhorarão o caráter?” Confúcio (551-479 a.C.)

“Toda a natureza é um anelo de serviço. (…) O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: O Servidor”. Gabriela Mistral (1889-1957)

“O cristianismo é o combate permanente ao egoísmo, a lição contínua de abnegação, de fraternidade”. José do Patrocínio (1853-1905)

“A felicidade não reside em rebanhos nem em ouro: a alma é a morada do destino do homem”. Demócrito (460-370 a.C.)

“Jamais alcançareis a virtude, até que façais caridade com aquilo que mais apreciardes. E sabei que, de toda caridade que fazeis, Allah bem o sabe”. Profeta Muhammad (560-632 a.C.) — “Que a Paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele!”

“Seja a felicidade o destino daquele que trabalha pela felicidade dos outros”. Zoroastro (628-551 a.C.)

“O amor que se nutre no coração do homem generoso é puro e nobre, leal e santo, profundo e imenso e capaz de quanta virtude o mundo pode conhecer, de quanta dedicação se possa conceber. Ele o eleva acima de si próprio, e as suas ações são o perfume embriagador desse sentimento, que o anima: mas o amor no peito do homem feroz e concupiscente é uma paixão funesta, que conduz ao crime, que lhe mata a alma e a despenha no inferno”. Maria Firmina dos Reis (1822-1917)

“Aquele que transforma em beleza todas as emoções, sejam de melancolia, de tristeza, prazer ou dor, vive na perpétua alegria”. José Pereira de Graça Aranha (1868-1931)

“Se houvesse mais Amor, o mundo seria outro; se nós amássemos mais, haveria menos guerra. Tudo está resumido nisso: dê o máximo de si em favor do seu Irmão, e, assim sendo, haverá Paz na Terra”. Irmã Dulce (1914-1992)

“Onde quer que haja um homem, haverá oportunidade para sermos generosos”. Sêneca (4 a.C.-65 d.C.)

“Grandeza e bondade não são meios, são fins”. Samuel Taylor Coleridge (1772-1834)

“A gratidão é a memória do coração”. Jean Massieu (1772-1846)

“Na justiça estão compreendidas todas as virtudes”. Teógnis de Mégara (Século 6 a.C.)

“Não há nada que tão bem refresque o sangue como uma boa ação”. Jean de La Bruyère (1645-1696)

“Se o gênio é uma grandeza, a bondade é uma excelência; o homem mais digno é aquele que mais se preocupa com o bem geral, procurando, com a força do seu espírito, corrigir os males e minorar o sofrimento dos infelizes”. Coelho Neto (1864-1934)

Recordo-me também de um aforismo de Edmund Burke (1729-1797) perfeitamente aplicável ao que despretensiosamente lhes digo: “Para que o mal vença, basta que os homens de Bem fiquem de braços cruzados”.

Naturalmente que, com essas palavras, Burke está combatendo o mal da covardia. Contra esse mesmo sentimento paralisante, o pastor e ativista político Martin Luther King Jr. (1929-1968) proferiu o seguinte alerta, caso as providências pelo fim das segregações sociais não fossem diligentemente tomadas em todos os Estados Unidos: “A história haverá de registrar que a maior tragédia desse período de transição social não foi o clamor estridente das pessoas más, porém o assustador silêncio das pessoas boas. A nossa geração terá de arrepender-se não apenas pelos atos e pelas palavras dos filhos da treva, mas também pelos medos e pela apatia dos filhos da luz”.

O líder do movimento dos direitos civis dos afro-americanos vale-se da grave lamentação de Jesus Cristo, em Seu Evangelho, segundo Lucas, 16:8, quando admoesta contra a omissão: “(…) Os filhos da Terra são mais perspicazes do que os filhos da Luz”.

Ajusta-se bem aqui pensamento do saudoso advogado, professor e escritor dr. Leon Frejda Szklarowsky (1933-2011), que foi conselheiro consultivo do Fórum Mundial Espírito e Ciência*3, da LBV, pois, se defendemos a Paz, o mesmo não fazemos no tocante a complacência com o erro: “A impunidade é a matriz e a geratriz de novos e insensatos acontecimentos e o desmoronamento do que ainda resta de bom na alma humana”.

E o cientista e matemático Blaise Pascal (1623-1662) adverte-nos para a necessária simetria entre o vigor e a retidão: “A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica. É preciso, pois, que se ponham em harmonia a justiça e a força, para ser justo o que é forte e ser forte o que é justo”.

Exato. E essa corrente de Solidariedade, que a LBV movimenta em todo o globo por meio de sua forte mensagem e de contundentes exemplos de Fraternidade Ecumênica, visa dotar a criatura humana desse equilíbrio. Isso me faz lembrar de uma reflexão do jornalista inglês, o democrata Thomas Paine (1737-1809), no seu influente livro O Senso Comum e a Crise, no qual ressalta que o ser humano, por menos expressivo que se considere ou por mais difíceis que sejam as condições a se enfrentar, possui qualidade que, somada à dos outros, resulta no benefício de uma causa, mesmo sendo ela a mais exigente: “Nosso apoio e sucesso dependem de uma variedade tão grande de homens e circunstâncias, que todas as pessoas, podendo pouco mais que desejar o bem, são de alguma utilidade.

Na convergência da máxima de Paine, é possível ir além e concluir que, quando o motivo é justo, o ser humano comum luta como um leão. Não precisa ser herói. O ser humano comum é o herói — a exemplo do Bom Samaritano.

 

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV).

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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