28 de março de 2024

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A calça legging masculina

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As leggings, calças coladas ao corpo usadas pelas mulheres, agora surgem em versões masculinas, as meggings. Será que pega?

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Quando as atrizes Marlene Dietrich e Katharine Hepburn, estrelas da glamourosa Hollywood dos anos 1930, lançaram olhares desafiadores para o mundo vestindo calças, causaram um misto de espanto e indignação. A peça era uma exclusividade do guarda-roupa dos homens. Poucas mulheres, com exceção das operárias, ousavam cruzar a rígida divisão entre os armários masculino e feminino. Oito décadas depois, enquanto muitas mulheres se sentem mais à vontade em calças do que com saias e vestidos, homens se aventuram no guarda-roupa do sexo oposto. Alguns dos tipos mais descolados tentam incorporar ao código de vestimenta masculino uma peça que há décadas é sinônimo de feminilidade: as leggings.

Aos mais tradicionais representantes do gênero, pouco familiarizados com as peculiaridades do mundo fashion, cabe a explicação: leggings são calças bem coladas ao corpo, usadas pelas mulheres para ir à academia, por baixo de vestidos ou com camisetas. Feito o esclarecimento, é impossível ficar indiferente à imagem de musculosas pernas masculinas cobertas de leggings. Ou, melhor, meggings, como as peças são chamadas, num trocadilho com as palavras “man” (homem, da tradução do inglês) e leggings. Quem se arrisca a aderir? À frente estão alguns dos astros pop mais destemidos no quesito estilo. O ídolo adolescente Justin Bieber já desfilou modelos diversos: dos menos ousados (brancos ou pretos soltinhos) ao justíssimo, em amarelo com estampa de zebra. O roqueiro Lenny Kravitz prefere as meggings com texturas. O britânico Russell Brand, conhecido como ex-marido da cantora Katy Perry, é um dos adeptos mais notórios. Já foi flagrado combinando as suas com chinelos de dedo e coturnos. O recorde da ousadia vai para o rapper americano Kanye West. Num show, ele usou sua megging por baixo de uma saia.

A controversa peça ameaça emplacar há algumas temporadas, no embalo das calças jeans e de alfaiataria que, a cada nova estação, se tornam mais justas. Desde meados dos anos 2000, os modelos skinny, de boca estreita, caíram no gosto dos homens. “As meggings são uma evolução da skinny”, diz João Braga, professor de história da moda da Fundação Armando Álvares Penteado. Elas costumam ser feitas de elastano e lycra. Por isso, são mais confortáveis e quentes. Não é à toa que alguns blogueiros e consultores de moda dizem que elas estão mais para roupa de baixo e pijama. Recomendam distância para quem faz questão de manter a elegância. Nas passarelas dos desfiles, as meggings são feitas para se destacar. Em 2007, a Calvin Klein apresentou as calças em cores vibrantes. Em 2010, o belga Martin Margiela sofisticou o modelo com paetês.

Apenas no último inverno americano elas começaram a aparecer nas ruas de Nova York, graças à chegada a grandes redes de departamento, como as refinadas Barneys e Nordstrom, ou unidades da Uniqlo, marca japonesa de roupas casuais. No Reino Unido, a famosa Selfridges diz já ter reposto seu estoque pelo menos cinco vezes. Para onde vai tanta megging é um mistério. Fora os descolados que habitam Tumblrs (um tipo de blog com imagens) dedicados à peça, vê-las nas ruas pode ser sinal de uma experiência em andamento. O publicitário Jake Dobkin, editor do site Gothamist, resolveu radicalizar e testar um modelo de oncinha pelas ruas de Nova York. Suas conclusões: são quentinhas; facilitam na hora de cruzar as pernas; são ideais para quando se quer comer muito, por não apertar a barriga. O veredicto final de Dobkin após encarar risadinhas de canto nos elevadores e apontadas na rua: “Confortáveis, mas muito transgressoras para a maioria dos caras”.

Há dúvidas de que a moda pegue – tanto lá fora como no Brasil. Por aqui, o estilista Alexandre Herchcovitch e a marca Colcci lançaram modelos. Sua escassez pelas ruas demonstra que os brasileiros ainda não foram convencidos a pegar de empréstimo uma peça ainda considerada feminina. “Ela é chamativa e funciona apenas para quem não se importa com o que as pessoas pensam”, diz a consultora de moda Bia Kawasaki. Talvez seja essa a lição das meggings – uma função mais nobre do que mostrar, perigosamente, a anatomia masculina. “Com esse tipo de polêmica, a indústria da moda quer desfazer estereótipos e mostrar a mudança de comportamento dos homens, mais preocupados com a aparência”, diz Lazaro Eli, coordenador do curso de moda do Senac.
Na Idade Média, os homens eram adeptos de modelos hoje considerados femininos. Usavam meias justas e compridas, de tricô, semelhantes às meggings. Referências mais contemporâneas de virilidade também não tinham problemas com calças coladinhas, dos metaleiros da década de 1980 aos fortões do futebol americano. Tampouco se tem notícia de Batman e Superman preocupados com o agarramento de seus colantes. A única dica para homens que queiram aderir às meggings é também comprar uma bolsa. Afinal, onde guardarão a carteira?

 

Fonte: Época

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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