19 de abril de 2024

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A Argentina está em ebulição

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Por Cássio Faeddo

 

A Argentina, como o Brasil, sempre teve problemas em gastar muito e oferecer muito pouco para sua população.

E isso ocorre de direita à esquerda. Tanto faz quem esteja no poder, vez em outra os argentinos observam sua moeda derreter, com inflação e crises políticas.

O governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) apostou que conseguiria frear os gastos públicos, e, com isto, atrair a confiança dos investidores internacionais em razão dos papéis argentinos.

Não conseguiu uma coisa nem outra. Ao contrário do que pretendia, mergulhou em uma crise econômica e inflacionária que minou sua reeleição em 2019.

Agora, mesmo diante de uma grave pandemia global, parte expressiva da população argentina, especialmente sua classe média, sai constantemente às ruas para o que chamam de “bandeiraço” contra o governo Alberto Fernandéz/ Cristina Kirchner.

Em pauta muitos aspectos sensíveis: inflação, custo de vida, dentre outros. Há, ainda, as invasões de propriedade privada (ocupação para a esquerda), denominada “toma tierras” e a reforma do judiciário.

No que tange à reforma o governo é acusado de propor um aumento do número de juízes, além de servidores, para aparelhar o Poder Judiciário com o intuito de favorecer Cristina Kirchner e outros políticos acusados de corrupção, com a denominada “Lei de Organização e Competência da Justiça Federal”.

Outro problema foi o aumento dado aos policiais da Província de Buenos Aires retirando percentual de 1% do orçamento da cidade de Buenos Aires. Relembre-se que o ex-presidente Macri criou uma polícia autônoma para a capital com parte do custo pago pelo governo federal.

Ocorre que a capital tem Horacio Rodríguez Larreta, aliado de Macri, como prefeito desde 2015. Já a província de Buenos Aires tem como governador, Axel Kicillof,  que foi Ministro da Economia da Argentina entre 2013 e 2015, durante o segundo mandato de Cristina Kirchner.

Na Argentina, como no Brasil, a grande mídia conectou o cidadão comum de forma massiva aos assuntos do judiciário em ambiente no qual prisões provisórias e preventivas espetaculosas tornaram-se corriqueiras. A esquerda Kirchnerista e setores da esquerda (longe de haver um consenso na esquerda) acusam o ex-presidente Mauricio Macri de ter perseguido políticos de oposição durante seu mandato usando essas ferramentas.

Cássio Faeddo

Enquanto isso o atual governo renegociou o pagamento de US$ 100 bilhões com credores privados e procura renegociar com o FMI e deixar de pagar ao fundo qualquer valor entre 2021 a 2024.

Há um imenso problema de se gastar mais do que se arrecada e a Argentina é um exemplo histórico dessa realidade, buscando financiamentos para bancar seus gastos.

Nesse ambiente a Argentina aprofunda sua crise econômica e vê os números de mortos infectados pela Covid-19 aumentarem, frustrando assim todo o esforço dos primeiros meses das medidas de contenção do vírus.

A polarização e intolerância ocorrem da mesma forma que nos acostumamos no Brasil, com a diferença de que na Argentina há um governo de esquerda na presidência, e muita gente está nas ruas.

Um ambiente polarizado, com cooptação do judiciário por ambos os lados, e agravado por grave crise política e econômica, pode contaminar ainda mais a frágil democracia sul americana.

 

Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. MBA em Relações Internacionais. FGV/SP.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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