29 de março de 2024

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Vitrine da Política. De onde virá a oposição ao governo federal

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Depois de 10 anos de tentativas frustradas de PSDB-DEM-PPS, como partidos associados à mídia tradicional, para desalojar o PT do poder político federal, a teia de oposição ao governo está sendo gestada na própria “base aliada”, uma excrescência que nenhum governo brasileiro acredita poder dispensar. Os dois artigos abaixo, publicados no último fim de semana naFolha de São Paulo, explicam como serão os caminhos até 2014.

PARA EDUARDO CAMPOS, GOVERNO DE DILMA NÃO DARÁ “PASSO ADIANTE”

“Dá para fazer muito mais” que a presidente Dilma Rousseff. Com esse, digamos, slogan, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), de Pernambuco, passou seu recado a um grupo de 60 empresários que se reuniram anteontem em SP, num jantar, para conhecê-lo melhor -e descobrir se ele é, mesmo, candidato à presidência. Boa parte saiu de lá com a certeza de que Campos vai, sim, se lançar contra Dilma em 2014.

O encontro foi na casa do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo. E Campos soltou o verbo.

Começou dizendo que o Brasil teve grandes conquistas nas últimas décadas -e logo engatou crítica que a oposição sempre fez a Lula, a Dilma e ao PT: “O Brasil não começou ontem. Não começou com o partido A, B ou C”.

Na sequência, engrossou o coro dos que dizem que as coisas no país vão bem -mas podem piorar. “Não há grande incômodo nas grandes massas. Não há na classe média esse sentimento, nem de forma generalizada no empresariado. Mas há, nesse instante, nas elites, grande preocupação com o futuro. Há o sentimento de que as coisas podem piorar.”

Os “florais aplicados em todas as crises” não funcionaram desta vez, diz Campos. “E mais do que de repente começa uma série de medidas, em série, em relação a vários setores, sobretudo, no início, na área do petróleo”, segue, referindo-se aos pacotes lançados por Dilma. “Há um sobressalto daqueles que foram atingidos e daqueles que não foram atingidos por medidas.” Para ele, “se estabelece uma ansiedade total”.

“E a tudo isso se somou a antecipação do debate eleitoral”, segue o governador, referindo-se, sem citar o nome de Lula, ao fato de o ex-presidente ter lançado Dilma à sucessão presidencial. “Um debate maniqueísta, eu sou o bem, você é o mal.”

Na sequência, Campos passa a criticar a campanha presidencial de 2010, quando Dilma Rousseff disputou com José Serra (PSDB-SP). “Nós tivemos uma campanha das mais pobres do ponto de vista do conteúdo. Acusação de lá, defesa de cá. Acusação de cá, defesa de lá. Sinceramente, não dá para respeitar como um debate à altura dos desafios do Brasil. E isso deixou as coisas desamarradas para o futuro.”

“Um monte de político se junta e diz: ‘Olha, a gente precisa ganhar a Presidência da República’. É como dizia o meu avô [Miguel Arraes]: na política, você encontra 90% dos políticos atrás de ser alguma coisa. Dificilmente eles sabem para que.”

É chegada a hora, portanto, de debater. E é o que o governador está fazendo, ainda que desperte a ira de Lula, de Dilma e do PT -até então seus aliados. “Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo.”

E crítica é o que não falta. “O estado que está aí, as políticas, as normas como são feitas, precisam evoluir.”

“Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores.”

“Dá pra fazer muito mais”, repete Campos. Para, então, disparar o torpedo: “E isso não vai ser feito se a gente não renovar a política. O pacto político que hoje está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer. As últimas eleições no parlamento brasileiro [em que Renan Calheiros foi eleito presidente do Senado com o apoio de Dilma e do PT] são uma indicação. É ficar de costas para tudo isso.”

O governo, além de tudo, “às vezes não dialoga”. A solução “é falar com o governo pela imprensa. Não quer me receber? Você pode tuitar. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de dar a minha opinião sobre a Medida Provisória dos Portos pela imprensa, porque não tive a oportunidade de discutir [com Dilma] antes. Apesar de o meu estado ter o porto público mais eficiente do Brasil. Eu podia até ser convencido de que estava certo. Mas não custava nada ouvir a mim e a outros.”

“Quanto mais popularidade o governo tiver, mais paciência e diálogo deve ter”, afirma. “E popularidade vai e vem. Popularidade é uma coisa. Voto é outra coisa.

O ano, afirma ele, deveria ser o da construção de “convergências políticas”. “E nós corremos um sério risco de botarmos 2013 fora.”

“Enquanto o Brasil diz que tem o petróleo do pré-sal, importa gasolina. A Petrobras, que já foi ‘case’ de sucesso lá fora, tá cheia de problema. E aí? Vamos ficar discutindo a eleição que vai ter em 2014 ou o país? Porque daqui a pouco a gente não sabe nem o que vai encontrar em 2014, entendeu? Precisamos encontrar em 2014 um país em que seja possível fazer algo para ele melhorar. E, sinceramente, a gente não pode ficar pelos cantos, constrangido em fazer o debate.”

Campos diz que a presidente Dilma conhece suas críticas. E mais: sabe também que seu partido, o PSB, o pressiona para se lançar candidato à presidência. “Quem disse a ela não foram terceiros, fui eu mesmo”, afirma. “Ela sabe o que o meu partido pensa e sabe os sonhos que meu partido tem. Se esses sonhos vão ser realizados ou não, é outra coisa.”

Ele então faz uma ressalva: “Só não vamos nos meter em aventura. E não vamos ajudar a destruir o que nós construímos. Nós queremos é seguir adiante, não é desmanchar as coisas boas que foram feitas. Nós queremos fazer mais coisas boas”. Continuidade, mas com liderança renovada.

Campos finaliza a conversa da noite sem assumir que é candidato. “Não vamos entrar num debate eleitoral. Cada um tem seu relógio. Ninguém é obrigado a andar no fuso horário dos outros.

Base governista?

Fosse a política brasileira menos acomodatícia, a reforma ministerial em gestação implicaria a retirada dos cargos entregues ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), que a esta altura, aliás, nada mais tem de socialista afora o nome. Os últimos gestos do presidente da sigla, Eduardo Campos, indicam a intenção de criar, sempre que pode, embaraços ao governo federal, que supostamente apoia.

Há 15 dias, o governador de Pernambuco estabeleceu uma surpreendente aliança com Paulo Pereira da Silva, o principal dirigente da Força Sindical, para barrar a privatizante MP (595) dos portos. Em seguida, na quarta passada, liderou 16 governadores em uma proposta de onerar a União em R$ 4,5 bilhões para resolver o problema criado com a derrubada no Congresso do veto presidencial sobre a divisão dos royalties do petróleo.

Campos vem sendo procurado por descontentes, à direita e à esquerda, com a presidente Dilma Rousseff. De empresários do agronegócio a representantes da estiva, passando por candidatos à presidência da Câmara, é extensa a romaria dos que viajam a Recife. A todos o neto de Arraes acolhe com magnânima boa vontade, mesmo que nada tenham a ver com a sua plataforma modernizante de eficiência gerencial.

O caso dos portos é exemplar. O mais coerente para quem defende o uso de métodos empresariais na gestão pública seria apoiar a medida privatizante. Mas Eduardo decidiu secundar o movimento dos trabalhadores, que têm nova greve marcada em uma semana com o objetivo de barrar o que consideram a privatização do setor. Para o cúmulo da ironia, o ministro encarregado da Secretaria de Portos é do PSB.

O objetivo evidente do jovem político nordestino é ampliar as bases para uma postulação presidencial de centro, provavelmente já no ano que vem. Portador de altíssima aprovação em seu Estado, ainda é pouco conhecido no resto do Brasil. Mesmo depois do bom desempenho do partido nas eleições municipais de 2012,

Campos tinha apenas 3% das intenções de voto no país. Por isso, precisa aparecer.

A disputa de 2014 será difícil para um candidato fora das grandes agremiações (PT e PSDB), considerando-se que Marina Silva também correrá pelo meio. Com pouco tempo de TV, Campos terá baixo poder de fogo. O seu trunfo é o suporte que recebe dos que querem desgastar Dilma, o que pode crescer caso a situação econômica patine. O mesmo explica, por sinal, a hesitação do PSD, de Kassab, em aderir à recandidatura da presidente.

O governo parece alimentar a ilusão de que pode recuperar a lealdade de Campos mais à frente. A lógica indica, entretanto, que só a terá se e quando não precisar mais dela.

Fonte: MÔNICA BERGAMO e ANDRÉ SINGER

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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