28 de março de 2024

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Projeto da USP ensina ciências com material de baixo custo

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Alunos de graduação e pós-graduação desenvolvem atividades com arte e ciência em comunidades mais afastadas

e com cinco ou seis retas era fácil para Toquinho fazer um castelo, para Ricardo Lacerda, funcionário da USP, com um ou dois pedaços de madeira e sucata eletrônica, é possível reproduzir o movimento dos astros no céu.

Lacerda é especialista em laboratório no grupo de pesquisa Interfaces e ajuda os alunos de graduação e pós-graduação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP a montar maquetes e experimentos científicos usados em atividades do projeto de extensão Banca da Ciência.

Alunos se reúnem para discutir ensino de ciências – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“A Banca é a parte ‘pública’ do Interfaces, porque ela trabalha com a difusão científica em comunidades pouco atingidas por essa divulgação de um modo geral, como escolas públicas e periferias”, explica Luis Paulo de Carvalho Piassi, professor responsável pelo projeto na EACH.

Lui?s Paulo de Carvalho Piassi

Inspirada em uma iniciativa de bibliotecas móveis que iam até comunidades afastadas a fim de incentivar a leitura entre os moradores, a Banca da Ciência é um quiosque itinerante que vai até estações de trem para chamar a atenção das pessoas para a ciência.

A ideia surgiu em meados de 2010 por Piassi e mais três amigos, também professores universitários, que levaram o projeto para suas respectivas universidades. Hoje, a Banca está presente também na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Guarulhos e Diadema, e no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Boituva. Além disso, abrange as ações do projeto Joaninha, que desenvolve atividades de difusão científica com crianças de até seis anos, atendendo à primeira infância, e o projeto Alice, para alunos do ensino fundamental II.

 

Além de ciência, o projeto também discute diversidade e desigualdade de gênero. Mulheres são maioria entre os participantes da Banca da Ciência – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Valores

“O que queremos é que o aluno consiga enxergar a ciência que está no dia a dia dele”, diz Lacerda, funcionário do laboratório do grupo Interfaces. “Por isso usamos materiais muito simples para construir as apresentações da banca. Isto aqui”, diz apontando para um protótipo com base de madeira, “é feito com peças de aparelho DVD, mas podem ser encontradas em lojas por um bom preço também”. Lacerda aperta um botão e, então, a haste que sustenta uma Lua imaginária começa a dar voltas em torno de uma pequena Terra, que pode ser feita de isopor.

Experiências são feitas com materiais próximos do cotidiano de qualquer pessoa – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Um dos preceitos da Banca da Ciência é mostrar que a ciência está em todo lugar e que todos podem fazê-la e compreendê-la. Por isso, os monitores das atividades utilizam materiais de baixo custo para preparar os experimentos e usam outras mídias para discutir ciência, como música, brincadeiras e literatura de ficção científica, sempre contextualizando com o cotidiano do público.

Além de divulgar a ciência, a Banca também chama a atenção para a atuação de mulheres na área, por meio das atividades desenvolvidas pelos projetos Joaninha e Alice. O Alice atua com jovens de 11 a 14 anos e possui seis frentes de abordagens diversas que homenageiam algumas cientistas e artistas. O grupo Lyra, por exemplo, trabalha com o ensino da robótica e faz referência a Jaqueline Lyra, engenheira mecânica carioca que trabalha na Nasa há mais de duas décadas.

Jovens atendidos pelo projeto descobrem a ciência na prática – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Outros grupos são o Lúcia (escritora Lúcia Machado de Almeida), sobre literatura; Dian (Dian Fossey, zoóloga norte-americana), sobre a relação com a natureza e os animais; Emma (Emma Watson, atriz britânica e embaixadora da ONU Mulheres), para estudos sobre mulheres e minorias; Rita (Rita Lee, cantora brasileira), com o uso de música; e Maria (Maria de las Nieves, comediante mexicana) discute a ciência através dos jogos.

Maior parte do projeto se encontra na EACH, onde há mais bolsas para alunos – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Organização

Emerson Ferreira Gomes

A maior parte do projeto se encontra na EACH, onde há um grande número de alunos bolsistas. Em outras unidades, a Banca se adapta de acordo com a quantidade de estudantes, com os recursos disponíveis e com os cursos ministrados.

No campus do IFSP, em Boituva, por exemplo, são os alunos do ensino médio integrado ao técnico que realizam as atividades de divulgação científica para estudantes do ensino fundamental de escolas da região. “Como as idades são bem próximas, os alunos do IFSP conseguem cativar os mais novos mais facilmente e o público se sente mais à vontade para tirar dúvidas”, observa Emerson Ferreira Gomes, um dos professores coordenadores da Banca na unidade.

Renata Telles

Já na Unifesp localizada em Guarulhos, as atividades são feitas por graduandos e pós-graduandos focados na docência, o que torna o projeto um aprendizado não só para quem vê mas também para quem faz. O mesmo ocorre na EACH, onde há uma grande participação de estudantes de todos os cursos.

Renata Telles é mestranda de Lazer e Turismo da USP e participa do projeto para estudar práticas de educação e lazer para pessoas com deficiência visual. “No Banca da Ciência, encontrei um espaço para desenvolver essas técnicas que são pouco discutidas na academia”, afirma.

Yasmin Rodrigues de Oliveira

Além de membros da Universidade, o projeto também conta com o apoio  e participação da população da zona leste. Yasmin Rodrigues é estudante do ensino médio no bairro Jardim Keralux, localizado ao lado da EACH, e já atua como monitora do Alice em sua escola. “Através do projeto, você conhece novas ciências, pessoas e oportunidades.”

Rui Manoel de Bastos Vieira

 

Entre outros resultados, na Unifesp, em Diadema, o projeto coordenado por Rui Manoel Bastos divulga a ciência com a ajuda de alunos de graduação, atuando em um projeto social local com crianças em vulnerabilidade social. Além disso, o grupo também promove acessibilidade no ensino das ciências em encontros com a comunidade surda, realizados por estudantes do curso de extensão de Libras e da licenciatura em Ciências da unidade.

Emerson Izidoro dos Santos

O projeto da Unifesp, em Guarulhos, chegou a levar atividades à Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde, como observa o professor Emerson Izidoro dos Santos, “a ciência é praticamente esquecida, é como se ela não fizesse parte do processo de alfabetização”. Nesse caso, o grupo aplicou atividades do Projeto Joaninha, que envolve práticas bastante introdutórias à ciência. “Tirávamos as pessoas da sala de aula para observar o céu. Com esse simples ato, pudemos explicar como os astros se movem. Deveria ser algo habitual.”

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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