28 de março de 2024

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Pequena alteração na tireoide também traz riscos à saúde

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Atividade pouco abaixo do normal já pode estar associada ao risco de problemas cardiovasculares e diabetes tipo 2

Pesquisa realizada em 3.321 mulheres revela que uma atividade da glândula tireoide pouco abaixo do normal (hipotireoidismo subclínico) ou mesmo em níveis hoje considerados normais podem estar associados ao risco de problemas cardiovasculares e diabetes tipo 2. Mulheres aparentemente saudáveis, mas com algum aumento do hormônio que estimula o funcionamento da tireoide, o TSH, apresentaram sub-partículas de colesterol e um marcador inflamatório associados a doenças cardiovasculares e ao diabetes. O estudo, que teve a participação do clínico geral e cardiologista Paulo Henrique Harada, pós doutorando do Hospital Universitário (HU) da USP, foi realizado na Harvard Medical School (Estados Unidos).

Os resultados são descritos em artigo publicado na revista científica Journal of the Endocrine Society. A tireoide é uma glândula do corpo humano, localizada no pescoço, que regula a produção e consumo de energia do organismo (metabolismo). “O funcionamento da tireoide é estimulado pelo hormônio TSH, produzido por outra glândula, a hipófise, que fica no cérebro”, afirma Harada. “A tireoide produz o hormônio T4 Livre, que modula o metabolismo e tem efeito em todos os sistemas do organismo”.

Relação entre hipotireoidismo subclínico e risco de doenças cardiovasculares e diabetes foi pesquisada por Paulo Henrique Harada - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Paulo Henrique Harada: estágio intermediário chamado de hipotireoidismo subclínico também oferece riscos – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

 

No estágio clínico do hipotireoidismo há uma queda na produção do T4 Livre. Segundo os médicos, esse quadro está claramente ligado ao desenvolvimento de diabetes e problemas cardiovasculares. “No entanto, há um estágio intermediário chamado de hipotireoidismo subclínico, no qual a tireóide mantém níveis normais de T4 Livre estimulada pela produção extra de TSH na hipófise”, observa o médico. “Apesar de neste estágio as pessoas habitualmente não apresentarem qualquer sintoma, suspeita-se que possa estar atrelado a maior risco futuro de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2”.

De acordo com Harada, não há um consenso na comunidade científica sobre a associação de hipotireoidismo subclínico com o risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. “Assim, nosso estudo buscou identificar se havia relação entre o hipotireoidismo subclínico com uma série de marcadores de risco para essas doenças”, explica.

Função tireoidiana

Ao todo, foram analisados os dados de 3.321 mulheres profissionais de saúde, com idade média de 57 anos, sem diabetes ou doenças cardíacas, participantes do Women’s Health Study do Brigham and Women’s Hospital, ligado à Harvard Medical School. Análises da função da tireoidiana apontaram que 17,3% das mulheres estavam no estado subclínico e 5,3% no estado clínico. O grupo foi submetido à medida de 35 marcadores no sangue associados ao risco de diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares, tais como frações de colesterol (rotineiramente solicitados em avaliação médicas), subpartículas de colesterol, marcadores inflamatórios, de metabolismo de glicose e coagulação.

“Desde aumentos de TSH ainda na faixa da normalidade e ao longo da faixa de hipotireoidismo subclínico, foi detectada alteração progressiva de um marcador inflamatório, a proteína C reativa de alta sensibilidade, assim como HDL colesterol, sub-partículas de colesterol (partículas grandes de VLDL e pequenas e de LDL) e triglicérides que estão associadas à resistência insulínica. A resistência insulínica é mecanismo fundamental no desenvolvimento do diabetes tipo 2 e importante contribuinte para doenças cardiovasculares”, ressalta o médico. “No entanto, não há variação significativa nos níveis de colesterol total ou LDL colesterol”.

Segundo o médico, serão necessários estudos com maior número de pacientes e com seguimento de longo prazo para consolidar os resultados da pesquisa. “Esta é uma questão fundamental a ser respondida, pois ela diz respeito ao imenso número de mulheres que se encontram na faixa mais alta dos níveis de TSH hoje considerados normais ou de hipotireoidismo subclínico. Mesmo que o risco individual de uma sutil diminuição da função tireodiana seja pequeno, ele teria um alto impacto na população pelo fato de afetar um imenso número de pessoas.”
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Harada participou da pesquisa entre 2014 e 2015, durante o período em que esteve no Brigham and Women’s Hospital, ligado à Harvard Medical School, com uma bolsa da Fundação Lemann. Depois de concluir o curso de mestrado em Saúde Pública, Harada retornou ao Brasil, onde integra a equipe de pesquisadores do projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil) no HU. O artigo Impact of Subclinical Hypothyroidism on Cardiometabolic Biomarkers in Women é assinado por Harada e pelos pesquisadores Julie Buring, Nancy Cook, Michael Cobble, Krishnaji Kulkarni e Samia Mora.

Jornal da USP

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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