28 de março de 2024

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Mel de abelhas sem ferrão ganha tese de doutorado no Cena/USP

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Pesquisador estudou o produto de 13 espécies nativas

André Araújo

 Foto: André Araújo com enxame de abelha jataí (Tetragonisca angustula) um dos objetos de estudo de sua pesquisa

Apesar de ser detentor da maior diversidade de abelhas sem ferrão de todo o planeta, a produção do mel brasileiro é baseada na espécie exótica Apis mellifera, também conhecida como abelha-europeia. Contudo, mesmo sendo um dos maiores produtores mundiais desse produto, a criação das espécies nativas ainda é pouco explorada no país.

 

Diante do pouco conhecimento disponível, embora desperte algum interesse gastronômico e da medicina natural, pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) estudou a composição do produto derivado de algumas espécies sem ferrão, comparando-o com o mel das tradicionais abelhas de listras amarelas.

 

“Os méis das abelhas nativas são muito diferentes das de Apis mellifera, o que o torna um nicho comercial ainda pouco explorado. Ainda mais porque sua produção apresenta grande potencial para agregar valor econômico sustentável aos ecossistemas brasileiros, sobretudo os florestais”, afirma André Luis Lima de Araújo, autor da tese de doutorado na área de concentração química na agricultura e ambiente.

 

Com o tema ‘Estudo da qualidade do mel de abelhas sem ferrão por análise por ativação neutrônica instrumental’, defendida em novembro, sob orientação da professora Elisabete De Nadai Fernandes, Araújo justifica a importância de sua pesquisa lembrando que 70% da produção dos alimentos do mundo dependem da transferência de pólen pelas abelhas. “Além desses dados mundialmente confirmados, estima-se ainda que as abelhas sem ferrão sejam responsáveis por até 90% da polinização das árvores nativas do Brasil”, informa.

 

Além do próprio mel, o estudo avaliou a composição química do pólen, principal fonte de minerais para a colmeia, e as próprias abelhas, num total de 13 espécies, que também foram coletadas para a correlação de seus respectivos méis. Para tanto, o pesquisador coletou amostras em cinco estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo), totalizando 77 colmeias.

 

As análises localizaram 10 elementos diferentes nos méis, outros 12 tipos nos polens e 14 nas abelhas. “Os resultados comprovaram a diferença na composição dos méis em função de local e espécies estudadas. Mas o dado mais positivo é que os elementos com importância toxicológica ficaram abaixo do valor máximo estabelecido pela legislação brasileira”, avaliou.

 

Outra importante diferença identificada nos teores avaliados diz respeito à umidade encontrada em cada tipo de mel, sendo que naquele proveniente da Apis mellifera, 80% é açúcar e 20% água. “A quantidade de água presente nos méis avaliados variou significativamente, sendo que apenas o mel de Apis mellifera apresentou umidade dentro do limite regulamentado, que é o de 20%. Já o nível da umidade presente nos méis de abelha sem ferrão variou entre 22 a 35%”.

 

A conclusão do trabalho demonstrou as diferenças existentes na composição química de cada um dos produtos analisados, suas características e ainda o efeito dos locais de origem nas suas constituições. “O estudo desses méis, combinado com o conhecimento do pólen e das próprias abelhas, nos permitiu um melhor entendimento sobre as contribuições desses produtos. Porém, ainda que exista uma legislação que regulamenta a criações de abelhas sem ferrão nas regiões onde são endêmicas, é necessário criar uma legislação específica para o mel dessas abelhas”, completou.

 

 

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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