28 de março de 2024

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Imaginação em torno da Petrobras

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Artigo de professor da Unesp publicado no Estadão Noite

Imaginemos que o preço internacional do petróleo não estivesse transformando o ouro negro em água de bica. Imaginemos que a crise financeira internacional não estivesse se esticando por tanto tempo e que, portanto, não estivesse ocorrendo a fuga em massa dos mercados bursáteis, jogando na lona os preços das ações. Imaginemos que a competição entre as grandes companhias do setor petrolífero não estivesse se acelerando em terreno escorregadio, cada qual buscando vender mais, como forma de compensar a perda dos preços unitários. Imaginemos que a institucionalização dos mecanismos de combate à corrupção não tivesse avançado tanto, na última década, no Brasil. Imaginemos, por fim, que não estivesse ocorrendo no Brasil uma acirrada disputa ideológica e partidária, elevando a temperatura das relações entre oposição e governo a níveis infernais.

 

Quais seriam as notícias a respeito da Petrobras?

 

Forcemos a imaginação, agora, a partir de fatos concretos. Tudo o que imaginamos inicialmente na negativa, aparece afirmativamente: queda do preço do petróleo e petrolíferas pelo mundo afora desesperadas para não perderem mercado e lucratividade; ações de empresas do setor despencando, por força das perspectivas para as empresas e também por causa da economia mundial no fundo do poço; no Brasil, facilidades institucionais para flagrar e caçar corruptos, combinadas com comportamentos políticos que não medem as consequências negativas de suas atitudes em busca de vantagens nas relações de poder. Então, qual será a situação da Petrobras daqui a um, dois, três, quatro, cinco, dez anos?

 

Para ajudar no exercício prospectivo, alguns dados: o petróleo seguirá sendo um insumo não renovável de grande importância, como fonte de energia e também para muitas aplicações no universo da petroquímica; a economia mundial tem comportamento cíclico – às depressões sucedem as retomadas e booms; a governança corporativa é uma tendência nas grandes corporações, assim como a accountability nos governos, e na Petrobras será acelerada por força da descoberta de esquemas de corrupção longevos e bem estruturados, que não podem continuar; o universo oligopolizado da indústria do petróleo seguirá exigindo das empresas competência técnica e mercadológica, sob pena de sucumbirem; as disputas políticas de hoje não serão as mesmas de amanhã.

 

Imaginemos, agora, como devemos nós, brasileiros –  acionistas ou não da Petrobras – analisar e reagir a tudo que tem sido dito e feito nos últimos meses contra esta empresa, cuja trajetória é motivo de orgulho nacional, e cujo patrimônio e capacidade tecnológica e competitiva são uma das maiores fortalezas da economia brasileira.

 

Valdemir Pires é economista, professor e pesquisador do Departamento de Administração Pública da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.

 

Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 12 de janeiro de 2015.

 

Assessoria de Comunicação e Imprensa

UnAN – Unesp Agência de Notícias

 

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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