24 de abril de 2024

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Governança & Sustentabilidade: decisões egoístas e a gênese da governança corporativa

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No início do século XX as organizações aumentaram substancialmente suas estruturas e ficou evidente o poder do capital, da tecnologia e da gestão em transformações de processos produtivos. Vale lembrar o que aconteceu nas fábricas da Ford, que em 1908-1909 vendia 10.607 automóveis e em 1916-1917 já tinha estrutura para produzir e vender 730.041 unidades. Para tanto, foi necessário aumentar os barracões, adquirir insumos, máquinas, investir em tecnologia.

 

Naturalmente que para isso são necessários recursos (R$). Nesse sentido, as organizações americanas fizeram emissões de ações, tendo como consequência a dispersão do capital nas mãos de milhares de acionistas.  A AT&T, por exemplo, tinha mais de 560 mil acionistas já na década de 1920.  Para operar essas indústrias, que se agigantaram, foi necessário contratar muitos funcionários, o que tornou inviável a gestão direta de parte dos proprietários. Surge, então, outra necessidade: contratar administradores profissionais.

 

Nessa cena em que os gestores ascenderam ao poder está contida a gênese da governança corporativa, porque foi possível perceber que os detentores das ações, cada vez mais, passaram a ter uma relação passiva em relação à administração, o que caracterizou o chamado divórcio entre propriedade e gestão. Os gestores passaram a ter o poder das informações (assimetria das informações) e começaram a tomar as decisões muitas vezes no interesse próprio, o que ficou conhecido como conflito de interesses, que mais tarde foi a base da teoria que abordou os conflitos de agência.

 

Nessa esteira, Jensen e Meckling (1976) postularam que o contrato entre o acionista e o executivo é permeado por uma relação de agentes, em que o primeiro é visto como principal e o segundo como agente. Se ambas as partes agirem de forma a maximizar suas riquezas, é coerente acreditar que o agente nem sempre agirá em razão do interesse do principal. Conflitos de agência se verificam tanto na iniciativa privada quanto no âmbito público.

 

Vamos a dois exemplos: em 2013, quando a incorporadora Gafisa acumulava mais de R$ 1 bilhão de prejuízos em dois anos, seus executivos ganharam quase R$ 20 milhões em bônus por desempenho. Quando Mantega presidiu o conselho da Petrobras foram gerados prejuízos bilionários por conta da retenção de preços, que provocou grande defasagem entre o valor de importação da gasolina e do diesel e o preço de comercialização desses produtos no mercado interno. A finalidade, supõe-se, era a contenção da inflação e os efeitos disso na campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.

 

Nesse contexto, cresce cada vez mais a importância das organização partirem para a adoção de estruturas de governança eficazes, que afetem justamente a harmonização de interesses e a mitigação das tomadas de decisão com finalidades egoístas.

 

*Rodrigo Casagrande é professor do Programa de Mestrado em Governança e Sustentabilidade do ISAE e também do MBA da Fundação Getúlio Vargas.

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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