28 de março de 2024

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Empréstimo de nome é responsável por 17% dos casos de inadimplência, revela estudo do SPC Brasil e CNDL

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Maioria emprestou documentos ou cartão para ajudar ou porque ficou com vergonha de dizer não; 23% não sabiam ao certo o valor que o outro gastaria. Arrependidos, 62% jamais voltariam a emprestar o nome de novo

Um levantamento feito em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) descobriu que o empréstimo de nome a terceiros é uma das causas que leva os brasileiros à inadimplência. Em cada dez pessoas que estão ou estiveram com o nome inscrito em cadastros de devedores nos últimos 12 meses, duas (17%) chegaram a essa situação porque emprestaram seus documentos ou cartões para que outra pessoa fizesse compras a prazo.

A maioria das pessoas ouvidas alega que emprestou o nome com o intuito de ajudar (51%) o amigo ou familiar, enquanto 13% ficaram com vergonha de dizer não diante do pedido. Outros 11% disseram ter ficado receosos de magoar quem pediu o nome emprestado, caso tivessem de negar o auxílio.

“Emprestar o nome para amigos ou conhecidos é uma atitude solidária, mas que pode causar danos à saúde financeira de quem arca com a dívida. Quem emprestou o nome termina se responsabilizando por uma dívida que não lhe pertence, cuja falta de pagamento possui desdobramentos sérios como a restrição ao crédito, inadimplência e até mesmo a perda da amizade de quem pediu ajuda”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Amigos e parentes são os que mais recorrem à prática; 23% deram nome sem nem saber o valor que o outro gastaria

De acordo com a pesquisa, a maior parte dos pedidos de nome emprestado surge de pessoas próximas do círculo social. Em primeiro lugar estão os amigos, com 26% de citações, seguidos dos parentes (21%) e dos irmãos (16%). Completam o ranking os pais (11%), namorados (9%), filhos (9%), cônjuges (8%) e até mesmo colegas de trabalho (8%).

A prática se torna ainda mais arriscada, quando quase um quarto (23%) dos entrevistados revela que emprestou o nome sem saber ao menos o valor da compra que seria feita. Em outros 28% dos casos, havia sido combinado um valor, mas a pessoa gastou mais do que o acordado.

A forma mais comum de emprestar o nome foi por meio do cartão de crédito, opção citada por 52% das pessoas que passaram por essa situação. O cartão de loja ficou em segundo lugar com 23% de menções – percentual que sobe para 28% entre as pessoas das classes C/D/E e 30% entre as mulheres. Também foram relatados casos de uso de financiamento (20%), crediário (19%) e talão de cheque (12%) de terceiros. “O cartão de crédito é uma das modalidades que cobram os juros mais elevados no mercado. Isso torna o hábito ainda mais perigoso porque em caso de atraso no pagamento, a dívida inicial pode crescer de forma considerável”, explica o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.

A pesquisa ainda descobriu que as principais aquisições feitas em nome de terceiros nem sempre dizem respeito a itens de primeira necessidade. Em cada dez situações em que os entrevistados sabiam o que foi comprado, quatro (37%) serviram para a aquisição de roupas, calçados e acessórios. Outros 20% foram destinados a empréstimo de dinheiro e 19% a compra de equipamentos eletrônicos. Completam a lista perfumes e cosméticos (15%), eletrodomésticos (14%) e móveis (13%). Em 16% dos casos, quem emprestou o nome não sabia o que seria adquirido.

Em 25% dos casos, pessoa desapareceu após usar nome emprestado e não arcou com os valores. Em média, dívida supera R$ 1,5 mil e 62% não voltariam a emprestar nome

De acordo com o estudo, somente em 11% dos casos a dívida contraída foi inteiramente quitada por quem pediu o nome emprestado. Para quase a metade (49%) dos entrevistados, a dívida ainda está em aberto ou sendo negociada, enquanto 30% tiveram de se responsabilizar sozinhos pelo pagamento das compras feita por terceiros. Em média, o valor da dívida chega a R$ 1.520,81.

Considerando os inadimplentes que emprestaram o nome e pagaram ao menos parte da dívida ou ainda estão negociando, 55% deles tiveram que fazer algo para conseguir limpar o nome, principalmente economizar e cortar gastos do orçamento (27%) ou usar parte da reserva financeira que possuíam (20%). Há ainda 11% de pessoas que tiveram de recorrer a empréstimos para conseguir quitar a dívida que outras pessoas fizeram em seu nome.

De acordo com o levantamento, 84% das pessoas que ficaram com nome negativado cobraram a devolução do dinheiro usado para quitar a dívida no seu nome, mas 71% não receberam nenhum pagamento. Em 41% dos casos a pessoa cobrada disse que não teria condições financeiras de pagar a dívida e em outras 25% das situações, a pessoa desapareceu, impossibilitando qualquer tipo de cobrança direta. Em cada dez entrevistados, seis (57%) admitem que a relação com a pessoa ficou abalada após o episódio, sendo que em 18% dos casos a amizade foi rompida.

Depois da amarga experiência de ter o nome negativado por conta de terceiros, a maioria dos entrevistados (62%) disse que não voltaria a emprestar o nome para os outros realizarem compras a prazo. Por outro lado, 20% voltaram a emprestar o nome a outras pessoas. “Quem pede o nome emprestado muito provavelmente já tem dívidas em atraso e está com dificuldades de obter crédito por causa da restrição ao CPF. Sendo assim, quem se arrisca a ajudar esse tipo de pessoa, precisa assumir o risco de não receber o dinheiro ou receber fora do prazo esperado. O recomendável é não emprestar ou emprestar apenas um valor que não fará falta no orçamento”, orienta a economista Marcela Kawauti.

Metodologia

Foram entrevistados 800 consumidores inadimplentes ou que estiveram inadimplentes nos últimos 12 meses nas 27 capitais, acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais. A margem de erro é de no máximo 3,5 pontos percentuais para uma confiança de 95%. Baixe a íntegra da pesquisa emhttps://www.spcbrasil.org.br/pesquisas

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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