Vários estudos mostram que, com o passar dos anos, as pessoas têm a sensibilidade gustativa em relação ao sal diminuída. Mas o que preocupa a comunidade de saúde é o fato dessa redução da capacidade de sentir os sabores se acentuar em presença de doenças como o Alzheimer.
Os resultados mostraram que a doença de Alzheimer está diretamente associada com o prejuízo da sensibilidade gustativa. A percepção do gosto salgado ficou prejudicada desde o estágio inicial da doença. E, com avanço, verificou-se que essas pessoas também sentem menos os gostos doce e amargo.
O paladar pelos sabores básicos – doce, salgado, ácido, amargo – foi observado pela pontuação dada pelos participantes do estudo. Cada um deles recebeu tiras com quatro concentrações diferentes de cada sabor e duas, sem gosto. “A diminuição da sensibilidade gustativa ocorreu em 26% dos idosos com a doença moderada; 8,1%, com a doença leve e 3,3%, sem a doença”, afirma Patrícia.
A nutricionista adianta que, com a idade, a função de identificar os gostos pode ficar prejudicada. Mas esse problema nas pessoas com Alzheimer se agrava com o avanço da doença. E o fato preocupa, pois a dificuldade na identificação dos gostos pode acentuar danos nutricionais nos idosos e agravar indiretamente a saúde.
Desnutrição em idosos
Os resultados desse estudo “podem contribuir para atuação prática do profissional na área da saúde que trabalha com o idoso que tem a doença de Alzheimer”, afirma Patrícia, já que oferece informações importantes para tornar as refeições mais agradáveis e atrativas. Patricia adianta que se deve ter cautela com orientações nutricionais restritivas para evitar possíveis complicações associadas à subnutrição.
Ela alerta também para que a dificuldade em reconhecer o gosto salgado não seja usada de forma isolada como um indicador no diagnóstico clínico da doença na população em geral. “Pode ser utilizado como método complementar para auxiliar a diferenciação de indivíduos com alteração cognitiva, em um contexto clínico. Porém, o mais importante é permitir identificar o momento certo para uma intervenção nutricional precoce, prevenindo a desnutrição nestes idosos”, adverte.
Segundo Patrícia, na literatura, existem poucos trabalhos que avaliaram a sensibilidade gustativa em idosos com a doença de Alzheimer. Os estudos já realizados apresentam limitações como pequeno número de pessoas analisadas e inclusão de indivíduos com mais de uma doença o que afeta o paladar. “Não existem pesquisas com este tema em idosos com a doença de Alzheimer, relacionando a progressão da doença”.
O trabalho Associação da gravidade da demência devido à doença de Alzheimer com o paladar de idosos foi apresentado pela nutricionista Patrícia Contri, em novembro, à FMRP para a obtenção do título de doutorado. A tese foi orientada pelo professor da área Geriatria do Departamento de Clínica Médica da FMRP, Julio Cesar Moriguti.
Doença de Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que cresce mundialmente conforme a população acima dos 65 anos de idade aumenta. Estima-se que o crescimento da incidência da doença dobre a cada 20 anos.
Dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) mostram que cerca de 1,2 milhão de brasileiros e de 35,6 milhões ao redor do mundo possuem a doença.
A patologia foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão, Alois Alzheimer. É caracterizada pela perda das funções cognitivas como: memória, atenção, linguagem e orientação. Não se sabe ao certo as causas da doença, que ainda é incurável. O único tratamento existente melhora os sintomas da doença, não sendo possível evitar sua progressão ou regressão.
Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
Agência USP de Notícias