Se a ciência já havia revelado que o consumo de maconha pode limitar a retenção de informações pelo cérebro humano, o que não se sabia até agora é que o uso crônico da droga também facilita a distorção – e até a invenção – de memórias.

Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona e publicado no jornal norte-americano Molecular Psychiatry mostra que os usuários de cannabis têm mais chances de “falsear” lembranças do que aqueles que não a consomem.

Em alguns casos, o cérebro pode se lembrar de coisas que nunca aconteceram.

Não se trata, porém, de loucura ou alucinação. Segundo o artigo, todos nós distorcemos nossas memórias em algum nível.

Um exemplo disso é quando acreditamos nos lembrar com precisão de momentos em nossa infância apenas porque alguém os narrou repetidamente para nós.

No entanto, consumidores crônicos de maconha são mais vulneráveis a estes “erros” de memória. Isso acontece porque a maconha diminui a atividade de uma estrutura cerebral chamada hipocampo, que armazena lembranças e nos permite diferenciar fatos reais de imaginários.

O que preocupa os cientistas é que o uso frequente da cannabis pode comprometer por meses a capacidade do consumidor de distinguir o “verídico do ilusório”.

Para os estudiosos, a questão é mais do que um problema de saúde pública. Em um exemplo mais extremo, a distorção de memórias poderia colocar em cheque a validade de um testemunho e a legitimidade de um julgamento.

Experimento
A descoberta foi realizada por meio de um teste com dois grupos: um de não usuários e outro de pessoas que eram consumidoras de maconha mas não utilizavam a droga havia semanas.

Cada grupo recebeu uma lista com uma série de palavras, com a orientação de tentar memorizá-las.

Alguns minutos depois, receberam a mesma lista, mas com alguns termos adicionais, sendo alguns deles relacionados semanticamente aos anteriores.

Em seguida, os participantes foram convidados a identificar que palavras pertenciam à lista original.

Como resultado, o grupo de consumidores afirmou ter visto na primeira lista palavras que só constavam na segunda.

Usando imagens de ressonância magnética, os pesquisadores observaram nos usuários uma menor ativação em áreas do cérebro relacionadas com a memória e com o controle cognitivo.

Para aqueles que consumiam a droga com maior frequência, a vulnerabilidade do cérebro a “falsas memórias” se mostrou maior.

 

Fonte: Exame