29 de março de 2024

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A partir de estudo de médicos de Campinas, SUS disponibiliza medicamento em sua rede para tratamento de câncer de mama

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Remédio, utilizado na rede privada há 18 anos, prolonga a vida das pacientes portadoras do câncer que mais mata mulheres no Brasil

 

“Quando soube que a medicação que está prolongando a minha vida seria introduzida ao tratamento pelo SUS e que milhares de mulheres teriam a mesma chance que eu estou tendo me deu um alívio enorme, pois muitas vezes me senti mal por saber que quem depende da rede pública também depende da sorte para viver”, relata Maria Inês de Arruda Camargo, que hoje, aos 50 anos, luta contra um câncer de mama metastático que descobriu aos 44 anos de idade.

 

A medicação mencionada por Maria Inês é o trastuzumabe, que evita a proliferação do câncer e é utilizado como tratamento para mulheres com câncer de mama HER2 positivo metastático (quando a doença se espalha para outros órgãos do corpo, como ossos, pulmões ou fígado). “Faço o tratamento com a medicação desde 2011 quando a previsão de sobrevida era de dois anos. Hoje já estou indo para o sétimo ano”, comemora.

 

O trastuzumabe é o medicamento considerado mais apropriado atualmente. Utilizado na rede privada desde 1999, agora será disponibilizado também pelo Sistema Único de Saúde graças aos estudos desenvolvidos por médicos de Campinas e que foram responsáveis pela mudança positiva no tratamento da doença e que pode prolongar, em média, o tempo de vida dessas pacientes em pelo menos 30%.

 

“O estudo foi encomendado pela a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica com a intenção de demonstrar claramente as evidências de benefício da incorporação da medicação, além dos impactos econômicos para a sociedade brasileira. Foi um desafio prontamente aceito. Uma satisfação poder participar de alguns passos para melhorar a saúde pública do Brasil. Temos ainda muitas outras prioridades não atendidas, doenças em que os tratamentos não são disponibilizados pelo SUS e que precisamos tornar viáveis”, afirma oncologista André Deeke Sasse, que é professor de pós-graduação da Unicamp e membro do Grupo SOnHe e, que juntamente com a enfermeira Adriana Camargo de Carvalho e a oncologista Vivian Castro Antunes de Vasconcelos, também membro do Grupo SOnHe, foram os responsáveis pela importante conclusão do estudo.

 

Introdução da medicação no SUS

Em 2015 foi feita uma primeira solicitação para que o Ministério da Saúde passasse a disponibilizar o trastuzumabe no tratamento, que não foi aprovada. Em outubro de 2016, nova solicitação foi feita, com a combinação dos medicamentos trastuzumabe e pertuzumabe (outro medicamento que apresentou excelentes resultados no tratamento desta doença, mas que ainda não é disponibilizado pelo SUS). O estudo foi apresentado no dia 8 de março deste ano, em Brasília, e, em abril, foi aberta uma consulta pública relacionada a importância da aplicação destes dois medicamentos pelo SUS. A decisão positiva pela introdução do trastuzumabe foi publicada pelo Diário Oficial da União no dia 3 de agosto desse ano. O governo agora tem um prazo de seis meses para efetivar a oferta.

 

Resultados

A primeira terapia-alvo que foi utilizada no sistema privado de saúde, no Brasil, em pacientes com câncer de mama metastático HER2 positivo foi o trastuzumabe (aprovado pela Anvisa em 1999). Já o pertuzumabe passou a ser utilizado em 2015 e também mudou o tratamento de câncer de mama, trazendo novas e melhores perspectivas para as pacientes. O pertuzumabe, usado em conjunto com o trastuzumabe, aumentou ainda mais o tempo de vida das pacientes e melhorou a sua qualidade de vida, tornando-se, segundo o médico André Deeke Sasse, um dos maiores avanços da oncologia das últimas décadas. “Ter conseguido a incorporação do trastuzumabe no SUS foi uma grande vitória e as pacientes da rede pública já terão um salto na qualidade do tratamento. Agora, esperamos a liberação do pertuzumabe para que as pacientes possam se beneficiar ainda mais”, comenta.

Segundo o médico Dr. Sasse, o estudo também analisou os benefícios e os custos da utilização de novos medicamentos no tratamento de câncer de mama metastático. “A avaliação inicial foi de que o custo do tratamento é muito alto para o SUS. Apesar disso, a Sociedade Brasileira de Oncologia acreditou que este seria um avanço importante no tratamento público brasileiro. Por isso, a entidade entrou em contato com o laboratório, que produz os medicamentos avaliados, e a indústria farmacêutica concordou em negociar melhores preços das terapias-alvo para viabilizar este uso no país”, explicou Sasse.

 

Ainda, segundo o médico, no sistema privado o tratamento para a mesma doença é feito há vários anos de forma diferente, por meio da atuação das terapias-alvo em conjunto com a quimioterapia. Desta forma, as pacientes do sistema privado vivem melhor e por mais tempo. “O trastuzumabe está em circulação há 18 anos, sendo usado para o tratamento deste tipo específico de câncer de mama com muito sucesso”, explica.

 

Número de casos no Brasil é alto

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma. Ele responde por 28% dos casos novos a cada ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).  Cerca de 15 mil mulheres brasileiras morrem em consequência do câncer de mama a cada ano, sendo que metade destas pacientes recebem o diagnóstico já em fase incurável ou apresentam recidiva da doença.

 

Sobre os autores 

 

André Deeke Sasse é médico oncologista clínico, com doutorado em medicina baseada em evidências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

Adriana Camargo de Carvalho é enfermeira, com doutorado em farmacoeconomia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

Vivian Castro Antunes de Vasconcelos é médica oncologista, aluna de mestrado em clínica médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

Sobre o Grupo SOnHe

O Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, é formado por oncologistas que fazem o atendimento oncológico humanizado e multidisciplinar no Hospital Vera Cruz, Hospital Santa Tereza e Instituto do Radium, três importantes centros de tratamento de câncer em Campinas. A equipe oferece excelência no cuidado oncológico e na produção de conhecimento de forma ética, científica e humanitária, por meio de uma equipe inovadora e sempre comprometida com o ser humano. O SOnHe é formado pelos oncologistas: André Deeke Sasse, David Pinheiro Cunha, Vinicius Correa da Conceição, Vivian Castro Antunes de Vasconcelos e Adolfo Scherr.

 

 

(Os comentários são de responsabilidade do autor, e não correspondem à opinião do SB24Horas)
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